20051229

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LEITURA DA FACE LATERAL DO MEU MAÇO DE TABACO 5

Deixar de fumar reduz os riscos de doenças cardiovasculares e pulmonares mortais

Afinam as frases pelo mesmo diapasão, continuamente e sem cessar, numa cabala publicitária posta de maneira a ser imediatamente absorvida pelo consumidor de tabaco e com requintes literários de horror, a dissecar as entranhas do fumador, a comprová-lo como bicho sem saúde, a condená-lo a uma de mil mortes certas e a provocar, nem que seja, um ligeiro esgar de nojo de doença na cara de qualquer um que fume. Bem hajam por serem tão frontais e enérgicos. Mas peço mais, peço imagens peçonhentas, esclarecedoras, fatais e viscerais! E peço o aumento do preço desta infame bostela.

20051226

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LEITURA DA FACE LATERAL DO MEU MAÇO DE TABACO 4

Fumar prejudica gravemente a sua saúde e a dos que o rodeiam

OK. Esta é uma afirmação imbatível, pois que me considero generoso e respeitador, embrenhado desse mesmo humanismo altruísta que definia os iluministas optimistas do passado. Não quero que ninguém sofra por mim, vou já para a minha área de fumo, a minha zona de fumador, o meu cubículo encantado e enfumaçado, o meu vão de escadas afastado, o meu ar livre descomprometido. Sem chatear ninguém a não ser eu próprio e a minha requintada saúde.

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LEITURA DA FACE LATERAL DO MEU MAÇO DE TABACO 3

Fumar provoca o envelhecimento da pele 

Como? Perdão? Não é inquestionável, inevitável mesmo, que a carne sucumba perante o avançar dos anos, que a epiderme se desgaste, se degrade, se decomponha? Dir-me-ão: aspirar esses viciosos canudos acelera o processo, abre gretas mais fundas e mais precocemente na pele. Certo, concordo, já me sinto a definhar a cada minuto que passa, mas não será apenas pelo tabaco que inalo, nem pela nicotina que absorvo, nem ainda pelos químicos que assimilo, mas também, e sobretudo, pela natural e irremediável decadência do ser!

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LEITURA DA FACE LATERAL DO MEU MAÇO DE TABACO 2

Fumar mata

Isto dito assim, categórica e peremptoriamente, sem contemplações, assusta qualquer um, mesmo os mais duros fumadores de cachimbo, de entusiásticos sorvedouros de chicha, de ultrapassados mascadores de tabaco e rapé e de meticulosos artistas aspiradores de tabaco de enrolar. Mas encontra um senão com um s enorme a capitulá-lo: já todos o sabemos, mas poderemos nós todos trocar um saboroso vício assassino por uma falta decadente de nicotina? Hmm

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LEITURA DA FACE LATERAL DO MEU MAÇO DE TABACO 1 

Os fumadores morrem prematuramente

Esta frase leva-me a primeiro a afirmar que sou de facto um fumador, pronto, catalogo-me, não sem alguma tristeza pelo facto. Depois leio ‘morrem prematuramente’, ponto da afirmação acima colocada, onde me questiono pela validade deste advérbio: quão prematuramente? Estaria eu destinado viver até à centena, até perfazer um século e, inspirando os 3400 químicos, alguns dos quais cancerígenos, aspiro a uma morte prematura, cerceando esses últimos anos de provável senilidade para uns meros oitenta? Ou, como prematuro, entender-se-á que morrerei aos trinta, sem ter chegado aos enta? Muitas questões a ponderar e uma decisão a tomar: deixar definitivamente o cigarro, apagar o último destes com raiva sobre o cinzeiro já demasiado castigado e seguir com a vida, sem este tolo vício (a quem nem nicorettes e niquitins souberam pôr termo), almejando viver até aos setenta, pelo menos.

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MULTIPLEXES KILLED THE CINEMA 

A população de Coimbra sempre esteve mal servida no que a questões cinéfilas concerne. Eu cresci com o Tivoli e o São Teotónio ainda a funcionar e vi-os cair. Vi o Giras Solum metamorfosear-se de uma boa sala de cinema para dois cubículos de junk cinema. Não conheci o Sousa Bastos nem o antigo Teatro Avenida. Identifiquei-me sobretudo com o novo Avenida e as suas salas, caricatamente afastadas umas das outras, com a sua labiríntica rede de lojas, mas sobretudo com o atendimento personalizado e afectuoso, o ambiente familiar e as sessões de cinema sem pipocas e sem intervalo, à cinéfilo comme il faux, puro e duro. Durante anos o Avenida foi o meu cinema, com as suas sessões especiais e em conjunto com o TAGV, com os seus ciclos de cinema de autor, organizados pelo fila K. Não suportava o Gira como o deixaram.

Depois da enxurrada de multiplexes em portugal na década de 90, Coimbra permanecia imaculada, intocada. Até que abriram as primeiras salas de fast food cinema e, então, foi a hecatombe! O Gira fechou e o Avenida reduziu-se a duas salas, com menos sessões, não tão tardias e sempre às moscas. Perspectiva-se difícil a manutenção.

Agora sabe-se que abrirão dois novos complexos cinematográficos, com mais 6 e 10 salas, o que se constituirá no toque de finados definitivo para o Avenida.

Coimbra viverá de multiplexes, de cinema aos rodos e gente aos magotes, com intervalos a truncarem estupidamente os filmes e com companheiros do lado a sorverem refrigerantes e a mascarem pipocas, enquanto esperam pelo intervalo, para se alambazarem com o seu hamburguer, a sua sandes, o seu cigarro.

Outras cidades souberam manter as pequenas salas de cinema, intimistas, precárias, mas que relembram a verdadeira génese do cinematógrafo, meia dúzia de aficcionados a consumirem cinema de verdade, filmes bem feitos e não o Harry Potter 3000 ou a quinquagésima sequela do The Ring! Leiria, Aveiro, Lisboa e Porto mantêm pequenas salas, que resistem à voragem e infinita e sedutora atractibilidade consumista dos cinemas gaveta. Permanecem com ciclos de cinema paquistanês ou indiano, como sala de mostra de indy cinema, de Sundance, de Cannes, de San Sebastian, de Berlin. Ou teimam em mostrar o mainstream concorrendo com os monstros de cinema farta-brutos.

Eu vou ao cinema para ver um filme. Sem mais nada, sem outro objectivo que tal, sem sobressaltos de bilheteira e lugar marcado, sem salas carregadas que nos empurram para as odiosas primeiras filas, sem o chocalhar das pipocas, o rumor das gomas e chupas e sem a sofreguidão oral dos refrigerantes aspirados.

Sugiro que recuperem o Sousa Bastos, o Avenida e o Gira como salas contra a corrente, que expulsem a Zara do Tivoli e o restituam como era e que ressuscitem o São Teotónio. Que devolvam a Coimbra as pequenas salas de cinema, únicas, autênticas, urbanas, íntimas e cinéfilas. Obrigado.

20051221

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GUERRILHA URBANA 

Surge este novo manifesto contra a fealdade humana, mais especificamente a construída, a urbanizada, a descomandada, a insensata. É um manifesto de imagens, de momentos capturados para condenar o descontrolo edificado. O capturador-de-imagens sou eu, acompanhando-as regularmente com acessos de virulenta crítica que não conseguirei aplacar, nem o quereria. O que procuro é o desmascarar e o triangular dos escarros que brotam por este país. Aceito contribuições escritas e gráficas e espero semear desgosto e inconformação, para depois colher sementes de vontade e trabalho, de mudança e rigor. Para nosso contentamento e benefício do país real.

Inté

20051220

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URSO VERDE NO PARQUE VERDE 

A anormalidade tomou forma, ontem de madrugada, pela mão de uns pirómanos reveladores da mais franca boçalidade humana... destruíram o urso!




como era :



Poetado :

URSO EXTRAPOLAR

Brinca alheio ao leito que lhe humedece as raízes e lhe flanqueia o verde corpo polar
Espera pela noite, quando guardado pela torre desta Lusa Atenas,
Rebola a fronte sobre a relva e saltita pesadamente pelas margens molhadas
Sem olhos atónitos que o amarrem

Já de dia, espera as crianças para lhe afagar as pernas, afecto de verde
Que se empoleiram no seu colo, repuxando-lhe a esverdeada pelagem do tronco
Tentando alcançar esse focinho de esfinge, sempre atento e ausente

Chamo-lhe Bazófias, urso vivo mas sintético
Nascido do verde que o adorna e que o acompanha,
epiderme débil de todos os seres, vivos e imaginários, nascidos da terra.

Espera nova noite, nela se há-de absorver
Urso feito pardo brincando.
fotos de rafael vieira