20061220

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CATARSE 11 DO 2

Hoje estou em desaceleração para férias, para embarcar já amanhã em ritmo acelerado de trabalho de férias. Bizarro, não? Também assim o encaro. Adiante, que o significativo é que este ritmo ao ralenti tem-me permitido postar mais do que poderia em dias normais e hoje a catarse até é mais dilatada do que habitual.

Assisti ontem por acidente ao filme Lost in Translation, porque o que queria ver realmente era o CSI Nova Iorque em dose dupla como é costume... Esperava pacientemente pelo CSINY, refastelado no sofá, quando apanhei com aquela truculenta série vendida como vida real (Jura) e que coloquei em modo mute enquanto o cigarro viajava entre a mão e a boca, intercaladamente, olhando os gestos das figurinhas na pantalha.

Chegou o filme da Sofia Coppola, lindo de fotografia e envolvente, mas perturbante – bastante para mim neste agora, mas bem menos do que o Virgin Suicides – pelo que é tratado a nível de sentimentos, de traições, de conformismo em relações e de rotinas...

Tenho esta questão que não é de ontem, mas que ontem aflorou novamente e forte, depois de uma série e de um filme onde é tratada de forma tão imediata e tão frontal a rapidez de mudança de parceiros e de deslocalização de paixões...

Serei o último romântico do mundo ao imaginar que existem relações tão puras e tão empáticas que possam durar em perfeição dezenas e dezenas de anos? E será realmente possível algo assim estável, duradouro e sempre fresco?

20061218

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MEMÓRIA 3 DO 12 

A FUGA DE WANG FÔ

Assisti no Palco Oriental, ao Beato, convidado, à peça A Fuga de Wang Fô, sobre texto de Marguerite Yourcenar, ideia e representação de Joana Pupo. Achei lindíssima a interpretação baseada na eficiente expressão corporal e facial da actriz e em dois objectos (baús) que se tornavam sucessivamente em casa, corpo morto, paisagem, quadro, quarto, cama e lugar de pensamentos e confidências. Ah, e mala de viagem.

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MEMÓRIA 2 DO 12 

PLUS OU MOINS L'INFINI

A companhia francesa Companhia 111 apresentou uma proposta de novo circo que me surpreendeu imenso; totalmente diferente do que conhecia pelos Cirque du Soleil e dos (talvez) novo circo Mayumana e Fura dels Baus. Estes são puro espectáculo de luz, som e pirotecnia, os primeiros mantêm a ligação umbilical ao circo clássico; já estes franceses são inovadores e tecnologicamente depurados sem perderem a comicidade e a desenvoltura física própria do circo. Fantástico. Voltem. Eu cá os verei outra vez.

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CATARSE 9 DO 12 

No leitor cai e gira The Science of Things dos Bush; rocalhão de que já sentia a falta: tocam riffs de guitarra e agita-se a voz aveludada de Gavin Rossdale. Entretanto, já cheguei a algumas conclusões em relação à minha vida e decidi-me enveredar pelo meu caminho: yellow brick road de eleição pelo meio do emaranhado de caminhos inacessíveis. Caminharei sozinho. Não devia ser sempre assim?

20061216

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CATARSE 8 DO 12 

Revolução! Clonagem de supetão! Multiplicação milagrosa! Conto agora oito, oito pais natal! A saga continua, conseguir-se-á chegar às duas dezenas antes do 25?

Novo exercício a la Alta Fidelidade, as minhas 5 melhores músicas: 

1 Something in the Way, Nirvana
2 Love Street, The Doors
3 The Unforgiven, Metallica
4 Always With Me, Always With You, Joe Satriani
5 Capitão Romance, Ornatos Violeta

Hoje, no Palco Oriental ao Beato, entra em cena a peça A Fuga de Wang Fô, sobre texto de Marguerite Yourcenar.

20061215

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CATARSE 7 DO 12 

Ouço Mezzanine dos Massive. Faço um exercício à Alta Fidelidade - aponto uma (possível) selecção imediata dos meus cinco melhores álbuns de sempre:

1 Mezzanine, Massive Attack
2 The Doors, The Doors
3 Maxinquaye, Tricky
4 Dig Your Own Hole, Chemical Brothers
5 Kind of Blue, Miles Davis

0'0'0'90'

CATARSE 6 DO 12 

Conto já seis pais natal a empreender a eterna subida até ao topo deste prédio à minha frente. Embrulho o meu cigarro de enrolar atando-o com a minha própria saliva com uma dedicação de mãe. Ponho-o na boca travando o fumo dentro de mim. Conforto-me.

20061213

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DECÃO

Grande dia de cão:

1 entorse no pé, que pensei que nunca teria na vida e deu para descobrir que a assistência médica aos 700 mil habitantes da área de Amadora-Sintra é uma perfeita merda!

2 duplo furo no carro, que me dá direito a um gasto de pelo menos 400 eurico. Prendinha no sapatinho!

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BLOQUEIA

Bloqueia neste fim de tarde este portátil de merda em que trabalho acerrimamente! Reinicio e coloco a pinchar Special Cases dos Massive! Tenho que sacar Lionel Ritchie e Tenacious D.

Falta-me ver a expo do Gonçalo Byrne, será aquela que está no CCB? Sei que ainda permanece aí a Habitar Portugal... Ainda no edifício do Vittorio Gregotti e Manuel Salgado vou ver hoje o espectáculo de Novo Circo da Companhia 111 : Plus ou Moins L' Infini.

No FDS passado vi as expos na Gulbenkian CAMJAP : 

1 Pedro Cabrita Reis
2 Fernando Calhau
3 Book Cell Project, Matej Krén 
4 Amadeo de Souza Cardoso

1 Falta algo à instalação do Cabrita Reis, será o desligar aparente do espaço envolvente? Já lhe vi instalações bem mais conseguidas e o certo é que a minha preferida continua a ser a instalada no Pátio da Inquisição em Coimbra. 

2 Fantásticos estudos e gráfico-evoluções de FCalhau. O fim é o melhor, com desenhos que se nos aparentam massacrar o papel e são ilusões puras. Pronto, eu gosto sempre de desenhos e de experimentação. Encontrei similaridades com Antoni Tàpies, a nível de simbologia - semiologia. 

3 Surpreende no momento da vertigem. Será um crime literário amarrar e perfurar tantos livros por atacado? 

4 Fui a ver Amadeo - essa máquina de pintar do início do século passado - num domingo. Apanhei com uma avalanche de gente curiosa em tragar arte, o que me contenta; atrapalham-me é a visão sobre os quadros; dão-me encontrões quando quero parar e falam quando pretendo apenas contemplar. Acha, arte gratuita equivale a moles de gente em corropio.

Sobre a expo tenho a dizer que detestei que não existissem informações adicionais sobre os quadros e sobre o percurso do artista; que pelo meio tenham atirado obras de outros artistas - que, embora encontre paralelismo na linguagem e cronologia , atrapalham a escorreita percepção da pesquisa de Amadeo; que não exista um percurso ou percursos de exposição definidos, mas sim um emaranhado de divisórias dispostas ao calha que nem possibilitam criar um próprio caminho e ainda o diminuto espaço de circulação que entope num Domingo como este.

Dr Divago

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Foto - de Shanghai, Setembro 2011

20061120

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CATARSE [primeira do 11] 

Pus Damien Rice e o seu O a tocar no meu leitor. Tocou e continua a tocar ininterruptamente e a debitar palavras sobre não fiz e deveria ter feito; fiz e não deu em nada; fiz e não serviu de nada... 

Imagens e temas depressivos o suficiente para servirem perfeitamente a este agora...

Damien Rice e o seu O agrada-me agora.
Damien Rice é o cantator que me serve.
Contribuirá ou amansará este estado de dúvida generalizada? Não o sei, mas é certo que a partilha de sentimentos me completa neste agora...

20060914

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VIAGENS

O que me chateia n’As Viagens de Gulliver “Travels into Several Remote Nations of the World” ou "Gulliver's Travels” é a indefinição ideológica partidária da época caricaturada pelo livro (não tem maniqueísmos bacocos a ilustrar “a” esquerda e “a” direita mas também passa a ideia de que não existem os conceito de humanismo e de bem público) e a condenação do livre pensamento (sendo que este é notoriamente uma opinião muito pessoal do moralista, conservador e clérigo Jonathan Swift).

20060906

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CATARSE DE SETEMBRO 2 

Prossigo com o meu jogo de xadrez pela net, quarto lance mandado via email. Então comparsa, quando arremessas a jogada de volta?

Espero pela minha cópia d’A Caverna do nobel Saramago com que uma amiga me decidiu, felizmente, presentear (confesso que, depois de me iniciar em Borges, Saramago aparenta-se-me bem sensaborão!). E se trouxermos à baila ainda Nabokov, Kafka e Poe, Saramago fica bem pequenininho.

O Chapitô deu SIM!!

Chapitolas, chapitolas!!!

Mas... amanhã... haverá o sim definitivo.

`*=?`=?=??==?

CATARSE DE SETEMBRO 1

Como copiosamente umas uvas deliciosas que me trouxeram enquanto trabucava. O calor arrebenta-se-me em cima, intenso e insuportável. Estão para cima de 35º em LX e trabalho sem ar condicionado.

A estação de serviço ao lado de minha casa, que uso para me abastecer simultaneamente de cigarros e de gasolina, são as mais caóticas entre as milhentas que já vi na minha vida.

Prossigo acesa discussão cibernética com um energúmeno inclassificável - sabe-me tão bem açoitá-lo por palavras!

Deixo cair um telemóvel e agarro-me a outro. Ando a coleccionar desejos de viagem e a ler simultaneamente Contos do Nascer da Terra, Trópico de Câncer e Viagens de Gulliver. O primeiro é do mais doce que já li, ao que sempre me habituou o moçambicano Mia Couto. O segundo é inclassificável, cáustico até ao infinito, perturbante e duro tal como o é prolixo nesses atributos o seu autor, Henry Miller. É o livro que mais me custou ler até agora – e anseio algo aparvalhado pelo resto da trilogia autobiográfica. O último já tinha lido e terminarei hoje depois de o ter começado no Domingo – comprei-o na Feira do Livro do Avante, aliás no estaminé da Feira da Ladra do Avante, por uns míseros cinquenta cêntimos.

Volto do Avante com a sensação de ter estado num dos melhores festivais feito em terras portuguesas (conheço-os a todos, com excepção do primeiro, o de Vilar de Mouros). O de Paredes, aonde já fui e já voltei, guardo-o como o outro também excepcional.

Aguardo pelo concerto da Maria João e Mário Lajinha amanhã, no Casino Estoril. Falam-me na estupidez de protocolo do código de vestuário, que espero não ter que obedecer. Afinal, o concerto até é gratuito! E grafa-se lajinha ou laginha? Não acho fidedigna uma pesquisa na Net, que até nem me apetece fazer.

Tenho nova morada, que podem ver aqui: http://humano-s.blogspot.com, onde publiquei uma foto do Google Earth.

O Chapitô, até agora, vai bem de saúde para quem lá quer entrar, e a minha boa amiga, pressagio, vai consegui-lo! A António Arroio é a outra hipótese a não descartar.

Tento impor a regra de conduta da reciclagem no meu atelier, mas seguem inglórias as tentativas. Tento reduzir, aumentam; tento reutilizar, desaparecem os desperdícios; tento reciclar, somem-se as oportunidades. Amanhã prossigo na ideia da minha melhor amiga estacionada em Newcastle-upon-Tyne, a Sissa.

Tenho o poema do Corvo, de Poe, para ler. Finalmente.

Amanhã estreia o novo de Almodóvar; como gosto tanto deste tenho que ver aquele.

Terminaram a Ciudad Judicial de Barcelona y L’Hospitalet de Llobregat, dos B720+Chipperfield. Como gostaria de ver esse mono erecto bem à minha frente.

Estas catarses dão-me de tempos a tempos e sabem-me pela vida – à la ZDQ, gato fedorento. Terei outra daqui a talvez-quando-não-o-sei.

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Fotografia - Cais do Ginjal, meados de 2006

20060706

º\º´\´\ºº´\~~~~11122

06062006 

mais futebol

Acabei de ver o jogo de Portugal – França. Perdemos mal quando o merecido seria um empate e um prolongamento. Faltou-nos talento para terminar muitas jogadas que levavam selo de golo. O penaltie sobre Henry não existiu, como não existiu falta sobre o Ronaldo na área contrária. De novo se repete a derrota perante o nosso carrasco de serviço: a França, tal como em 84 e tal como em 2000. A arbitragem teve uma falha que não teve uma grande influência no resultado, o que me parece pior foi o anti-jogo praticado pela equipa francesa de travagem no ritmo do encontro, por ter jogado à italiana com defesa em bloco e contra-ataques possíveis e pela demora constante na reposição da bola em jogo. Devia ter existido um amarelo para Barthez por isso.

O melhor deste Mundial foi ter-se apagado a memória boa mas esmagadora do Mundial de 66 e pelo demonstrar das capacidades infinitas da Selecção. Portugal vive muito de fantasmas e é necessário eliminá-los. Fora o sebastianismo bacoco e que acabe o "fado" paralisante.

O terceiro lugar é nosso e daqui a dois e quatro anos se verá.

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O POEMA DO MINDINHO 

a uma amiga estacionada em newcastle-upon-tyne, que se questionou uma destas tardes sobre a desconsideração votada ao dedo mindinho

o mindinho é o pequenino amado pelos outros dedos
o mindinho está nas alas da mão mas não está de canto
o mindinho não se pôe de castigo pois a mão não o solta, como mãe extremosa que é
no mindinho também se põem anéis e a sua unha também é manicurada e pintada para o pôr bonito
se algo de mau ocorrer à maternal mão, também o mindinho, como filho e irmão que se preze, sofrerá
o mindinho segura-me a chávena de café por debaixo
o mindinho coça-me o olho e afaga-me a sobrancelha
com o mindinho faço piretes carinhosos e falsos
o mindinho tira-me o cotão do umbigo, a ranhoca do nariz e a nhanha da orelha
em parelha com o polegar, o mindinho forma uns cornos com que presenteamos os nossos inimigos
o mindinho é fundamental para quem toca piano
o mindinho é um coto necessário para os dactilógrafos, estenógrafos e simples escribas de pc
os praticantes de tiro com arco e de setas não negligenciam a importância do seu mindinho
sem o mindinho, a linguagem gestual teria que ser revista
também seguro o cigarro entre o mindinho e o anelar (testei-o agora)
o mindinho é parte necessária do processo de enrolar cigarros e de queimar e esfarelar a pedra para o porro

nos países em guerra da África e Ásia o mindinho das crianças é que limpa as armas
consigo também estalar o mindinho, claro que sem o estrépito claro do médio e do indicador
com o mindinho sossego a comichão que tenho agora na perna
mesmo agora coçava a cabeça com o mindinho, enquanto reflectia noutros atributos deste nosso dedito

a imagem de marca de alguns grunhos portugas é manterem a unha do mindinho enorme, facto sociológico de que não descortino a função - será a tal de limpar de impurezas os pavilhões auditivos?

mesmo o mínimo do pé, primo próximo (direito ou esquerdo) do dedo mindinho e também descurado na sua necessidade óbvia, tem a sua importante função: a do nosso equilíbrio.
também necessitamos do mindinho para fazer o pino, para nadar, para abraçar, para tirar o cabelo maroto de sobre a cara da nossa pessoa amada e também para cumprimentar os conhecidos e amigos, no vulgo "bacalhau"
e não imagino a mão sem o mindinho, como seria termos quatro dedos, somando oito nas duas terminações dos nossos membros superiores? caricato por hábito, não?
de equilíbrio e de estética resulta muito bem o nosso mindinho na nossa mão
como ferramenta de trabalho é indispensável o mindinho
quando tiver um filho chamar-lhe-ei mindinho josé em reverência ao nosso dedo
se fôr menina fica como mindinha
se forem gémeos é mais complicado, mas posso fazer variações: mindinho, mindo, minde, mindocas...

mindinho ao poder, mindinhos de todo o mundo, uni-vos.

proponho a fundação do partido do mindinho e do sindicato dos mindinhos para lutar pelos direitos desta classe de dedos desprezada. a central sindical do mindinho perfila-se já no horizonte e o jornal do mindinho e a revista de periodicidade semanal mindinho serão um acrescento essencial à subida ao justo estrelato de um dedo tão desconsiderado.

sugiro também renomear a cidade do Mindelo em Cabo Verde e a Vila de Minde para cidade e vila do mindinho, respectivamente

os mindinhos de todo o mundo farão um cordão humano, perdão, mindinho - falta-me o adjectivo -, mindinho abraçado - falta um glossário de mindinho para escrever - com mindinho até aos antípodas deste planeta terra. mais: declaro como necessário mudar o nome deste calhau do universo de terra para mindinho! seria mais que a justíssima homenagem a um pedaço de carne, tendão e osso tão menosprezado! e a lua seria a lua chamada de mindinho em órbita estacionária desse outro astro renomeado de mindinho. confundir-se-iam os dois pontos astrais pelo nome mas não pela vida e dinâmica que pulula num deles: o povo dos mindinhos felizes, the happy folk!

89|ª`|ª^ª^^

29052006 

Hoje decidi escrever em catadupa, em catarse de fim de tarde: estou em Lisboa, neste preciso momento sem ninguém com quem estar, pontualmente sem nada para fazer e, numa pausa merecida e forçada no mundial da alemanha - sem jogos para assistir. Assim, me assiste a vontade de escrever umas linhas sobre alguns temas da actualidade que me têm comido a moleirinha, e, como gosto de escrever sobre assuntos actuais... Now, with no further ado.

1 sobre Timor Lorosae
2 Mundial

1 sobre Timor Lorosae

Já andava há uns tempos para debitar uns pensamentos sobre o “nosso” Timor Leste mas esperei até agora para ver até onde a situação ia, se recrudescia a violência no território ou se passava (se amainava) a tempestade e os humores. Como veio a bonança fiquei tranquilo, mas se depois da intempérie chega a calmaria também depois desta é de esperar o retorno da borrasca.

Foi o que aconteceu com as declarações de Mari Alkatiri depois da sua forçada demissão e do ajuntamento de uma multidão de 15 mil pessoas (números da 2:; a SIC falava em 10 mil) para o apoiar, o que fazia prever mais violência assim que este grupo entrasse na capital. Ainda não vi as notícias hoje por isso não sei o que aconteceu entretanto, se a multidão desmobilizou, ou pelo contrário, e isto é o que temo que venha a acontecer, os partidários do ex-primeiro ministro entraram em díli e prosseguiram com a táctica da guerrilha e da terra queimada.

Há sempre questões que ficam penduradas em situações tão complexas como a que se vive agora em timor e as quais parece que ninguém se digna a responder, divagando por fait divers. Há umas quantas que ficaram a vogar no éter da minha incredulidade e que gostava que fossem respondidas para repousarem a minha ignorância e insatisfação.

São estas questões que me atormentam:

Como pode Xanana chantagear, na impossibilidade legislativa de o demitir, o primeiro ministro de um país que é ainda uma democracia ameaçada e que precisa, acima de tudo, de estabilidade política, baseado numa notícia saída num jornal australiano?

Foi essa reportagem fidedigna e essas acusações comprovadas?

Qual o interesse australiano em Timor e qual a verdade dentro do rumor de participação activa do governo australiano no levantamento militar?

Como permitiu o governo timorense a entrada das forças militares australianas dentro do espaço soberano nacional quando o ideal seria uma task force policial militarizada coordenada pela onu (como de resto, se constituiu a intervenção portuguesa, com os paramilitares do GOE)?

E porquê esta rápida movimentação militar australiana, indicando que já saberiam de antemão o despontar deste pseudo coup de êtat?

Respondam por favor.

2 Mundial

É histórica a participação portuguesa neste Mundial! É a segunda vez que estamos neste patamar de qualidade futebolística e entre as quatro melhores selecções do mundo. Das caminhadas gloriosas mas não vitoriosas de 66, de 84, de 2000 e de 2004 e pela menor distância entre estas 2 últimas (intercaladas pelo desastre de 2002) perfilam-se vitórias firmadas nos próximos tempos – e a isto se chama evolução – e juntando títulos mundiais e europeus de séniores aos dois títulos de esperanças. 

Vejo neste momento o desenrolar do jogo entre Portugal e França (um dos nossos carrascos) e espero que vençamos para tornar 2006 o ano da vitórias autênticas de Portugal.

20060705

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VAMOS LÁ PÔR BOLAS (PONTOS) NOS IS 

e isto a propósito das picardias entre os lusos e os brasucas na net relacionadas com futebol e que soltaram questões antigas

o maior erro que se pode fazer quando se comentam outros povos é generalizar. existe uma minoria portuguesa que odeia brasileiros (e quaisquer outros povos) e há brasileiros que odeiam portugal por motivos históricos.

mais que conheço as banais anedotas sobre os portugas e sei-as regulares no brasil, mas em portugal existem outras tantas a malhar nos brasucas! há, sobretudo, que ter humor.

que estes sentimentos (de jocosidade generalizada, de ódio por parte de uma minoria) definam o pensar de um povo está absolutamente errado, como é erróneo também pensar que por sermos apodados de povos irmãos, devemos ser devedores da mais pura e franca gratidão (da parte brasileira) e da mais justa e fraterna subserviência (da parte portuguesa). 

eu prefiro pensar que todos os povos do mundo são nossos irmãos, em que os brasileiros se afiguram como um irmão mais próximo - mais novo mas mais possante e mais íntimo e amado - mas isso não é garante de que, quando necessário, puxe mais pelo meu país do que pelo brasil. e não existe sensibilidade entre (países) irmãos no que concerne ainteresses económicos, bélicos, comerciais e estratégicos.

tenho orgulho de que o brasil fale português (e os seus 180 milhões de habitantes tornam a nossa língua a 6ª do mundo) e tenha profundos laços históricos com portugal - dele veio e dele descendem ainda muitos dos brasileiros actuais. considero o brasil uma das potências mundiais porvir. 

tanto me orgulho do brasil de hoje como me envergonho grandemente das falhas do passado, das perseguições aos povos ameríndios, do desbaste da riqueza brasileira, das inconsequentes imposições evangélicas e das destruidoras incursões dos bandeirantes. 

não é possível eliminar a história que foi mal escrita, mas a história de agora e a que virá, está a ser escrita neste preciso momento e cabe-nos a nós redimirmo-nos de erros antigos. esqueçamo-nos, então, dos ódios ridículos.

eu amo o brasil e venero portugal. eu amo o futebol brasileiro e considero-o genial. eu sigo o futebol português avidamente e considero-o uma promessa. e portugal deve muito a todos os brasileiros que cá jogaram e jogam e treinam, pois nos fizeram evoluir - com isto expresso toda a minha gratidão. mas é redutor afirmar que é a scolari, assim como a otto glória no seu tempo, que se deve exclusivamente a caminhada vitoriosa de portugal. 

deve-se é a um conjunto de factores que se juntaram às sublimes capacidades de chefia destes dois técnicos: 

um grupo de jogadores experientes, capazes, lutadores e ambiciosos 
uma caminhada de vitórias anteriores a cada um dos campeonatos

neste mundial de agora juntaram-se as últimas glórias da "geração de ouro" com novas promessas que cresceram a ver esses jogar e o grupo vem na esteira de outros que estiveram nas meias finais do europeu de 1984, que ficaram em terceiro no europeu de 2000 e em segundo no europeude 2004 e que ganharam dois títulos mundiais de esperanças

aos portugas inflamados digo:

os brasileiros não são arrogantes na generalidade, são expansivos e extrovertidos e ainda bem
a selecção canarinha não é mais nem menos beneficiada nas competições do que outras 
5 títulos no campeonato demonstram a sua craveira de genialidade desportiva

este campeonato não demonstrou o que a equipa brasileira consegue fazer, mas todas as equipas têm um momento não

aos brasucas inflamados digo:

portugal não tem títulos maiores porque ainda está em crescimento no futebol, mas parece estar a caminhar bem
a selecção tem algumas glórias (3º lugar no mundial de 66 e pelo menos o quarto no de 2006, 2 terceiros lugares e um segundo no europeu) também 
em clubes portugal tem diversos triunfos (4 títulos europeus, 1 taça uefa, 1 taça das taças, 1 supertaça europeia, 1 taça intercontinental)
os brasileiros não são maltratados em portugal pela maioria dos portugueses, o que se passa é que existe uma minoria de anormais que atacam todos os estrangeiros

abraços portugueses aos brasileiros meus bons amigos

20060627

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FUTEBOL 1 

Não tenho postado nada no blog porque tenho dedicado completamente o meu tempo livre ao percurso estonteante de Portugal no Mundial da Alemanha de 2006. Sim, porque eu amo futebol, sou apaixonado pela Académica, venero a selecção e cresci a sofrer verdadeiramente com as nossas vitórias e nossas derrotas dentro das quatro linhas (antes estas em maior número que as outras, mas agora aquelas estão em crescendo – estamos para já em 7º no ranking da FIFA com perspectivas de subir e alcançámos pelo somatório das vitórias na Alemanha o 19º lugar das participações em mundiais, trepando 7 lugares).

Nasci português e cresci com os olhos na bola guiada por jogadores vestidos de vermelho velho e verde vivo. Nascesse brasileiro e seria incondicionalmente canarinho e em vez de ter crescido com a bola toda adentro dos olhos e pregada ao coração teria nascido já com ela no berço a balançar ou com ela como apêndice dependurada dos pés, sujeita e presa ao corpo que a embala por um invisível cordão mais que umbilical. Os brasileiros são os deuses do futebol do Olimpo terreno, só eles fazem vibrar plenamente todos os amantes do desporto rei, rainha, imperador e imperatriz (o único verdadeiramente mundial) com as suas façanhas de bola peléguiada passíveis de fazer acreditar que o jogo é extraordinariamente simples e puro! O futebol praticado pelos melhores futebolistas brasileiros e não o futebol brasileiro (há que demarcar a diferença) é intuitivo e fenomenal e onde quer que eles estejam eu os apoiarei, exceptuando, claro está, quando jogam com Portugal.

Se os brasileiros são os deuses, nós tugas, somos os santos adeptos que seguram a bandeira com sofreguidão tal que quase a rasgam em desespero por este novo sebastianismo que espera por novas e frescas vitórias guerreiras, mas agora dentro das regras do esperado desportivismo. Nós levamos ao extremo o significado da cor mais fria desse nosso símbolo que se desfralda e a outra cor não interessa nomear pois já secou e estancou e não se pretende recuperada.

Apontamentos estatistico-futebolísticos (outra das minhas paixões):

Alemanha 2006 é o quarto mundial em que Portugal participa. Os outros foram 1966, 1986 e 2002.

É interessante reparar neste retorno cíclico de vinte em vinte anos sendo a presença na Coreia-Japão a ovelha ronhosa da tendência (e assim o é/foi duplamente).

Em 2002 nem as santinhas do Oliveirinha nos valeram. Em 1986 fomos o Togo do México.

Em 1966 fomos às meias mas então não houve oitavos, pelo que neste mundial quase que igualámos a caminhada dos magriços contemporâneos – falta uma vitória para igualar a posição (meias finais) e o número de vitórias (5). A última vitória de 66 foi pelo 3º lugar contra a Rússia do soberbo Yashin.

E também em 66 ganhámos ao Brasil por 3-1 na nossa única confrontação em fases finais de mundiais e caímos apenas perante a confiante e caseira Inglaterra dos Charlton, os tais herdeiros dos anglos e dos saxões que iremos novamente defrontar 40 anos depois de 66 e 20 depois de 86 – aqui com vitória, pelo que estamos igualados nos resultados. 

Em conclusão

Vou continuar a apoiar fervorosamente a selecção e vou sofrer como todos no próximo sábado. Se não ganharmos que ganhe a Espanha que pratica um futebol de semideuses a meio caminho entre Portugal e Brasil e se não ganharem os apelidados de nuestros hermanos que ganhe então o escrete do nomeado povo irmão.

20060519

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CAPÍTULO 2 - OS OBTUSOS 

D’aprés henry miller

Diz-me este palhaço que é do pnr!

Apregoa alto e orgulhosamente a sua declarada certidão de militante de extrema direita, a sua verborreia propagandística de xenófobo e racista e a sua prontidão e extremismo de nacionalista!

Estou entre os bichos, e que cegos eles são!

20060518

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CAPÍTULO 1, ONDE ESTOU, ONDE ESTÁS?

D’aprés henry miller

estou entre ímpios!

Um proclama bem alto o gosto pelas armas, pelo tiro aos pratos e pelas artes marciais. E defende ainda obstinadamente o recurso às armas como último e mais eficaz meio de defesa pessoal, seja em casa ou na rua, como reduto e baluarte únicos dos oprimidos contra os ruins!

Outros dois defendem abertamente o anterior. Outro ainda suporta o primeiro, mas mantém-se comedido.

Tenho escondido que sou do BE, mas as qualidades que penso possuir, de civismo e humanidade, saltam por palavras cá para fora e tentam alterar algumas complicadas mentalidades... Infrutífero - nunca se conseguem modelar atitudes extremistas, corrigir pensamentos ínvios e reeducar mentes obstinadas, quando os indivíduos acreditam realmente nisso tudo e têm nutrido ódios e incompreensões! É o falhanço total!

Um admite consumir drogas amiúde, de todos os tipos, regular e prontamente, pelo simples gozo pessoal ou para inclusão no grupo. Outro sei-o que faz o mesmo há já três dezenas de anos, disse-o o anterior e eu confio. O declarado consumidor de estupefacientes diz-me que é o mais habitual por estas zonas e que todos o fazem e o continuam a fazer e ainda me convida para participar no repasto, estranhando a minha recusa. Já fumei, já enrolei e já travei, o resto não o quero porque sou fraco de espírito – por mais que tente e queira não deixo de fumar – e segui em frente.

Existe ainda este que destila prepotência por todos os poros, mas canalizado apenas só sobre os que não têm formação superior! Eu e outros dois, por sermos licenciados, fugimos à deflagração, mas eu, em especial, sinto-me enojado e nada confortável por tal tratamento especial e diferenciado e por ver rebaixadas pessoas pela única razão de não possuírem habilitações!

Esta é a mentira e a antipatia tornada gente. O outro que se lhe junta é outro que tal e copia-lhe inteiramente o modo de lidar com os demais.

E falam e falam e apregoam e pregam e doutrinam sobre os bairros povoados com negros e brasileiros e ucras e sei lá mais quem que seja estrangeiro e estranho e mais escuro ou mais claro – em suma, diferente – e que não encaixe no WLPC (white luso-portuguese catholic), anagrama copiando o famosamente triste WASP. Pintam subúrbios de criminosos e obstinados e esfaimados meliantes que ocupam e destroem tudo e que se pudessem destruíam ainda mais, no seu simples entendimento de preto-no-branco, numa simplista divisão maniqueísta das coisas – não é dos nossos porque não encaixa no nosso perfil, logo não é bom nem bem vindo, ponto!

E justificam o defender-se pela força das armas, inclusivamente admitindo o matar, não compreendendo o princípio das coisas ou não o querendo de todo sequer perceber. Queria que fossem todos pretos mansos para sofrerem na pele o desgaste da incompreensão e da intolerância; da falta de recursos e da constante exclusão; dos caminhos a que se é obrigado a trilhar e que não têm alternativas, nem bifurcações, nem tão pouco interfaces.

Este é asquerosamente tímido e não expõe publicamente as suas convicções, pelo que não admito conhecer a sua forma de pensamento. O que se lhe avizinha no cubículo é todo sorrisos e simpatias mas palpito que é por pressentir o seu posto a perigar.

O último é brasuca e foi aceite.

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BEIJINHO

Bateram hoje à porta de minha casa. Palhaços. 

Em “Bateram” quero dizer que deram um beijinho, bateram chapa com chapa e não: tocaram à minha porta e tal. Será que não percebem que andar a mais de cem no interior duma zona habitacional só pode dar merda, eventualmente?

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LX

Trabalho em Lisboa. Stop. 

A mensagem telegráfica anterior era um ponto de situação. Agora vai o sumo da coisa: é fantástico trabalhar aqui – por comparação à desolada província por onde minguei e por onde rastejei por três longos e estafados anos – e por comparação também à decadente e provinciana Coimbra (já o dizia Adolfo Correia da Rocha, o Torga, Miguel). Já me instalei quase totalmente numa porção de casa mas espero ainda por algo mais concreto e definido e completamente definitivo – sendo que aqui, a etapa temporal que declaro como querendo ser definitiva, abarcará de seis meses (período de tempo igual a BCN) a um ano ou mais, e será enquanto durar o filão e dourar a criatividade! 

Instalei já o meu papel de parede de desenhos e o meu mural de projectos em evolu-ebulição. Conto ter mais tretas para partilhar brevemente. 

Para já aponto que está adormecida a minha colaboração com o BE coimbrão e hibernados os projectos de Alcobaça (4) e do Corvo (3).

20060327

56454º´\º\º~º~º´\~~~~~

TELEXPLOSIVES

Meu deus, meu deus, isto soa a piada!? Andam praí telelés a explodir! Será das baterias chinesas que custam uma bagatela? Dos carregadores ciganos por tuta e meia? Das capas e acessórios das grandes superfícies ao preço da uva mijona? Dos carregadores de isqueiro ao preço da chuva? Ou será uma stunt, um plot, uma manobra publicitária por parte das marcas para veicularem em todos os media que os acessórios de origem são os únicos fidedignos?

Eu espero para ver, enquanto acaricio o meu nokia 8210 com bateria e carregador chineses.

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CONADÁ, LAND OF THE FREE 

1
Hoje odeio especialmente os canadianos. Hoje apetece-me abater uns quantos canadianos à paulada com um pau com um espeto na ponta. Hoje nutro sincera antipatia pelo governo canadiano e pelos canadianos (ou tipos doutras nacionalidades) cuja função é caçar focas com um gostinho assassino resplandecendo da boca.

Mas a antipatia recrudesce pela desmedida falta de ligeireza e humanidade para com os imigrantes! Mas disso falo adiante.

Na questão das focas, leio e vejo que mataram 25 mil crias até agora, após a abertura da caça à foca. Fico horrorizado ao ver cenas macabras de animais (só assim os posso chamar, de animais) a correrem na direcção de crias indefesas e abatê-las com aquele estúpido gosto de caçador em busca da presa e com a apregoada desculpa de controlo das espécies! E tudo em conivência – nem beneplácito, antes encorajamento – por parte do executivo canadiano!

Vê-se por aqui que a crueldade e estupidez humanas não encontram limites que possam facilmente ser demarcados, havendo desculpa para tudo o que se faz! Não percebo é determinadas coisas em todo este caso... Não percebo tudo, vendo bem...

Primeiro, parece – parece – haver um descontrolo no número das focas, um crescimento desenfreado que as faz tomar as proporções de praga, certo? Mas se não há interferência com as culturas humanas (que é a verdadeira definição de praga, tudo o que interfere com a nossa vidinha, devendo ser por isso fervorosamente erradicado) porquê a aniquilação sistemática deste ser? Podem contrapor o seguinte: que existe interferência com os pesqueiros, daí que assuma os contornos de uma praga, mas não vejo como isso possa ser explicação; as focas dificilmente interferirão com a quantidade de peixe existente no Canadá, que conta com uma biodiversidade riquíssima, com alguns dos maiores pesqueiros do mundo e, em que não existe uma tremenda necessidade de alimentar multidões de esfaimados dado que sendo o segundo maior país do mundo, tem das menores densidades populacionais e a interferência directa será com o acossado povo inuit, vulgo esquimós, que não me parece que mereçam uma atenção especial por parte dos pseudo americanos governantes canadianos.

Podem rebater o que escrevi ainda com a ideia de que se as focas são demasiadas tem que ser nivelado o seu número. Mas eu escrevo ainda antes disso ser colocado na mesa para não dar tréguas: se as focas cresceram exponencialmente é porque não existem predadores em número suficiente para se encontrar o equilíbrio do número de indivíduos (e não existem predadores porque esses foram também inconsequentemente caçados e aniquilados como a foca-leopardo, a orca e o urso polar) e se existem demasiadas é porque as condições o proporcionaram: existirá alimento suficiente para esta vaga de juvenis. Se o não houver, o equilíbrio surgirá naturalmente sem a crua interferência humana! E não me venham dizer que esta atitude é o melhor para as focas, pois se evita o sofrimento de uma morte por fome! Mas se morrem milhares de crias ao ano pela boca do predador e pela triste inevitabilidade da fome! Além de que, com esta caça sistemática, se perde a objectividade fundamental da corriqueira selecção natural das espécies: quem garante que os caçadores não eliminam os melhores indivíduos deixando os pior preparados para viver? Pois...

Eu vejo três soluções possíveis da qual escolheria uma: ou se deixa a natureza seguir o seu curso, eliminando as crias em excesso e permitindo-lhe seleccionar os melhores para perpetuar a espécie no melhor sentido; ou se introduzem novamente os predadores juntando à primeira hipótese uns quantos esfomeados seres, mas não sedentos de sangue, caçadores, para ajudar a compor os números ou ainda, considerando que o governo do Canadá ache por bem interferir para melhorar a vida das focas (hahahaha) achando as duas supracitadas vias como caminhos difíceis e nem sequer equacionáveis – por falta de bom senso e despudor – então aí sugeria aos benfazejos caçadores o manejo de armas mais coadunáveis com a sua natureza de amantes dos animais: pistolas, espingardas e carabinas para que com um tiro certeiro na nuca da foca esta não passe por minutos de intensa dor até ao último estertor antes da morte. Seria uma hipótese mais humana? Espero que não falhem no momento e não dirijam o cano da arma para si ou para outros benditos colegas contribuindo para a erradicação dos cabrões que para aí andam.

2
Já em relação aos imigrantes no Canadá (e aos nossos emigrantes, particularmente) não compreendo uma coisa que não tem surgido nas notícias: se existem ou não e a quantidade de imigrantes de outras nacionalidades. 

Chateia-me especialmente que o Canadá funcione assim para com cidadãos estrangeiros (e nem me interessa o caso português, interessam-me todos os envolvidos) dado que é, ele próprio, uma manta de retalhos. Coexistem aqui imensas culturas, línguas e nacionalidades que não se compreende que expulsem por água vai milhares e milhares de pessoas! 

Há falta de espaço? Deixem-me rir, os horizontes do Canadá são intermináveis, existem muitas terras por ocupar no Quebec, no Labrador, em Saskatchewan, em Ontário...

Existe desemprego para os nativos? Rio ainda mais e quase me engasgo com as gargalhadas! Esta é a velha questão do imigrante mau que vem roubar trabalho ao pobre coitadinho autóctone! É uma falsa questão, ó se é! Os imigrantes ficam sempre com os trabalhos de merda que os naturais não querem e só na segunda ou terceira geração (caso decidam permanecer) a vida começa a melhorar.

Os imigrantes são problemáticos?

Não acredito que a grande maioria o seja. Esse argumento não foi arremessado mas se o fôr será de índole propagandística, apenas!

Já o afirmarem que se encontram em situação ilegal isso toma dimensões de ridículo! Quando alguém viaja para um país em busca de melhores condições de vida vai para arranjar um trabalho, quase nunca leva já um trabalho prometido! E, se correr bem, começa então a estabelecer-se e aí sim, começará a procurar a legalização. É assim que se processa, ou vamos impedir a natural dispersão humana encerrando as fronteiras impedindo todas as hipóteses a quem procura um melhoramento da vida? 

Tudo isto me parece ridículo e hoje odeio mesmo o Canadá!

20060207

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LEITURA DA FACE LATERAL DO MEU TABACO DE ENROLAR 1 

Pois, não deixei de fumar, mudei foi o tipo de tabaco que fumo. Agora fumo tabaco de enrolar. E este avisa no dístico a preto sobre branco: 'Fumar pode reduzir o fluxo de sangue e provoca impotência'

Bem, falta-me o conhecimento para aferir sobre os limites médicos do primeiro período da afirmação. Acredito. Assim como na segunda parte da frase, que aceito como verdade irrefutável. Sobra-me pouco espaço para humor negro com esta frase aqui. Podia dizer que o que não me falta é potência, mas seria um pau mandado do humor grunho e brejeiro. Passa. 

Agrada-me apontar que este tabaco é muito mais saboroso e barato do que o Ventil que fumava antes. E esta verdade é, ela também, inabalável.

20060124

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ALHEAMENTO NA CIDADE 

Buscando inspiração no monocromático azul do tecido que se me opõe neste assento do metro desta metrópole imunda e fantástica que é Barcelona. 

Gosto de me sentir anulado como habitante desta grande metrópole. De me sentir ninguém em especial, de ser normal, um como tantos, outro no meio de outros. Ser mais um desta Metropolis, e se não estivera ou faltara, melhor ainda que nenhuma falta fizesse e nem fosse notada a ausência. Porque gosto de sentir a indiferença com que me presenteiam, e de retribuir esse mesmo desinteresse. Ah, da nulidade como cidadão especial, como é bom ser anónimo, absolutamente incógnito, ser outra ovelha na ruidosa multidão deste rebanho urbano!

Sinto um gosto especial, enquanto utilizo os transportes públicos de Barcelona, pensando em que o fazia simultaneamente com outros milhares de pessoas em diferentes direcções rumo ao seu trabalho, num afã quotidiano e desafeiçoado. Umas rumavam das vastas populosas periferias para trabalhar no maciçamente sobrepovoado centro da cidade, sempre buliçoso, e conspurcado, ocioso também, mas em movimento contínuo, 24 sobre 24 horas. Outros ainda, em menor número que os primeiros, seguiam o destino contrário, indo trabalhar para os subúrbios em sei lá que funções terciárias ou secundárias em que estariam empregados. Quase todos levavam algo que ler, ou o Metro – jornal gratuito diário, comum às metrópoles mundiais - deglutido pela trigésima vez nessa manhã, ou calhamaços que denunciavam muitos como estudantes, ou estrangeiros (como eu, a ler Saramago, com olhares inquisidores perante títulos exóticos como: Manual da Escrita e Caligrafia ou o Ensaio Sobre a Cegueira) e insuspeitos amantes de literatura. Outros ouviam música, inaudível a quem do exterior o tentasse, com auriculares enterrados nos pavilhões auditivos, escondendo invariavelmente - efeito pretendido ou não - a mescla sonora do metropolitano ou do autocarro. Os restantes ocupantes olham para o vazio, congeminando listas e planos ou tentam ler o objecto de leitura do vizinho, pois infe lizmente se esqueceram do próprio.

Eu, por mim, gosto da diversidade de sons dos transportes desta grande cidade: o buzinar estrepitoso e por vezes colérico do condutor; o toque de recolher das portas do metro; o vozear das gentes, em milhentas línguas, muitas delas ininteligíveis; a cadência sonora da composição sobre os carris; os silvares da mesma sobre o metal e o som de objecto estranho (que é o metro ao desbravar estes escuros túneis) ocupando velozmente o que ainda há pouco era espaço vago, expulsando o ar pelas laterais, como uma bala empurrada fatalmente pelo cano da arma.

Gosto deste alheamento que sempre saboreio ao saber como pouco significamos numa grande metrópole. Que somos mais uma peça da engrenagem da máquina urbana, que não soçobraria se faltássemos um momento que fosse, pois é uma máquina tão complexa, feita de inúmeras peças humanas com o mesmo valor que eu – ou seja, completamente e idealmente desnecessárias. Faço parte desta cosmopolita mole humana, sou igual a tantos outros como se fôramos uma fileira de indecifráveis faces de cidadãos da Eurásia (desse Orwell que por aqui também andou e que por aí deixou pedaços da sua carne), tão insignificante para fazer diferença no imediato. O que faço seria imediatamente feito por outro chamado a preencher a minha vaga.

Sou parte da paisagem urbana e contento-me por passar despercebido no meio dos demais – e dos demais me passarem ao lado. Gosto de comparar a vida aqui como se se tratasse de um colossal formigueiro, com todos a trabalharem para o bem comum (ou para a desgraça alheia) como formigas, sempre correndo agitadas, para lá e para cá, cegas perante outras, só tactilmente e fugazmente próximas. O melhor de viver numa cidade imensa como esta é mesmo a ausência de estarmos, para os outros habitantes é indiferente estarmos ou não estarmos, existirmos ou sermos, se estivermos somos mais uma cara na galeria de rostos irreconhecíveis; se não, não. Mas existem ligações, amizades, contactos, conhecimentos, claro! Mas não na fria e concorrida atmosfera de um transporte público. Só no exterior, na cidade autêntica. Mas aqui, nunca se entabula conversa prolongada com ninguém.

Barcelona, num qualquer dia de feira de Fevereiro de 2004