20200502

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BAIRRO ZINE 0.5
carta desd'o bairro
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(1) ESTEOUTRO BAIRRO - triangulação espontânea
(2) AMOR EM TEMPOS DE PANDEMIA - teórico amorizações
(3) APONTAR UM DIÁRIO - formato pensado
(4) TECTOS - andamento suave







(1) ESTEOUTRO BAIRRO - triangulação espontânea

Escrevo umas linhas mais, porque é de conforto e de prazer que me faz a escrita. Parece certeira, cresce automática, flui naturalmente, assenta por aqui. Mesmo que sem qualquer motivo ou objectivo, escrever faz-me alma, arrebita, faz-me fogaça no ventre e na cara, conforta-me. Faz-me flow (1). Faço aqui uma breve pausa e compro o livro, finalmente. Já está. Chegará numa semana, mais ou menos vírus a entaramelar os percursos e a distribuição postal. Escrever é uma necessidade fisiológica, tão necessária que a sua ausência provoca desconforto, a sarar com pelo menos uma ou duas linhas - nada de haiku - a compor uns pensamentos. Escrevo agora e retomo-o, este bairro zine que foi sempre irregular, num novo bairro, numa nova cidade, numa tal de «nova normalidade». Alta (antes, o original do primeiro Bairro Zine, se bem me recordo, era Bairro Alto, daí também o nome escolhido); Coimbra (era Lisboa - LX) e a «nova normalidade», daquelas expressões certeiras e acertadas de que se não conhece a autoria e que bem definem um determinado modus vivendi, paradigmas, que é a situação pandémica que cobriu o mundo de um manto diáfano de incerteza e que ainda nos devassa.

(2) AMOR EM TEMPOS DE PANDEMIA - teórico amorizações

Em tempo de pandemia, em que os pensamentos vivem acossados entre quatro paredes e em que se limitaram os horizontes do eu, as relações e os sentimentos sobrevivem num confinamento difícil. Mesmo para aqueles que não podem prescindir de trabalhar longe de casa, em que os confinamentos são menos geográficos, mas também mentais. Entre quatro paredes segue o amor cão ou o amor longe. Quantos viram cortada a sua relação pela imposição de afastamentos ou então quantos se viram na impossibilidade da corte, quando a hipótese era ainda uma semente. Aos arredados do relacionamento, acrescem os exaustos do relacionamento, aqueles para quem a convivência era difícil e agora a ela se viram obrigados. Ou ainda aqueles que vieram a descobrir algo que nem imaginavam, que a sua relação estava por um fio e as suas quatro assoalhadas só o precipitaram. Há muitas e múltiplas vivências que se viram forçadas, quase do dia para a noite, a reinventar-se e reconsiderar-se. A interacção humana é um bem precioso e também um gesto singular. Certamente que para cada duas pessoas que se aproximou, haverá certamente duas que se afastaram e ainda outras duas que se viram irremediavelmente acossadas, por falta de via de fuga, perante qualquer violência que já vinha de antes. Pandemia não é uma panaceia. Isto dará certamente um texto de teatro ou um livro, algo. (2)

(3) APONTAR UM DIÁRIO - formato pensado

A minha relação com a escrita em diários sempre foi intermitente. Tive-os a tempos soltos, ora por uns dias, ora por algumas semanas. Fosse por um par ou por algumas dezenas de dias, os meus diários eram sempre experiências fugazes. Nunca me agarrava por muito tempo. Sentia-me demasiado condicionado a escrever, exercício que sempre me fluiu melhor quando solto de quaisquer amarras. Sei que essas intermitências a escrever foram mais frequentes quando tinha tempo disponível para testar outras vias de escrita. Não necessariamente daquelas vias que eu consideraria produtivas. Ou seja, para publicações, possíveis livros, textos com algum veículo - económico, temático, utilitário - em vista. Um diário é uma deambulação sem amarras, livre, sem quaisquer regras literárias ou de alcance final, de umbiguismo e desgarrada, soltando a verve descerebradas. Quem o lerá que não o próprio? Existe algum escritor que tenha começado a compor o seu diário sem ser reconhecido como escritor para, depois de já o ser, esse diário passar só então a fazer sentido para investigadores e apreciadores da sua obra? Terá algum escritor resistido a destruir um diário seu antes do reconhecimento da sua obra, como pedira Kafka? Adolfo Correia da Rocha, o Miguel Torga, começou a lançar volumes do seu diário quando já era conhecido, o Diário I em 1941, o II em 1943, o III em 1946; um volume a sensivelmente cada 3 anos, até ao VIII, em 1959. Já em 1999, foram publicados os volumes IX a XVI, que cobrem os anos 1964 a 1993. Este exercício era o seu lado B. Mas que interesse para o comum leitor, se não apenas para o interesse académico. Certamente não para deleite literário. E qual o interesse para o escritor? Um ginasticar pelos meandros da escrita criativa, como bálsamo necessário para a expulsão das palavras que se vão acumulando e como método de disciplina e afinação de escrita. Peguei num desse volumes de Torga e li ao acaso - porque se há objecto literário a que não há a necessidade de fio condutor, é no diário - e vi expressos pensamentos de médico, a tergiversar sobre este ou aquele paciente, esta ou aquela preocupação mundana, afazeres do quotidiano pouco substanciais. Comuns. Enfadonhos? Porquê escrever então um diário? Porquê então a escrita de diários (que não diarismo)?

(4) TECTOS - andamento suave

O tecto simboliza e simbolizará sempre um limite palpável. Não se diz o tecto é o limite, diz-se o céu é o limite. Mas é o tecto que é visível e alcançável, o céu é invisível e inalcançável. A qual é que devemos almejar? Haverá algum equilíbrio entre um e o outro? Podemos talvez considerar os dois como possibilidade, o tecto como um degrau para o infinito, o infinito como o objectivo último, a alcançar após o ultrapassar o primeiro. A coisa complica quando se habita no piso térreo de um edifício em que o número de tectos se multiplica consoante o número de andares, fazendo aumentar o número de objectivos a alcançar e a ultrapassar e tornando o céu ainda mais distante para o observador. E da óptica deste observador, isto torna-se uma metáfora da ascensão social. Foi a esta metáfora - sucessão de camadas a transpor para sobrevir a uma condição de classe - que Jacques Lob e Jean-Marc Rochette recorreram ao criar Le Transperceneige (3), recriado depois por Bong Joon-ho no seu Snowpiercer (4). Luta de classe pura e dura - e sangrenta, comme il faut na revolução. Onde é que isto já vai, camaradas. Unimo-nos. O tecto é também - para quem o possui, claro - o visível firmamento ao adormecer e ao despertar, corporizando tanto uma barreira ao firmamento autêntico, a abóbada celeste, como também funciona como uma camada de protecção ao que seria uma exposição à inclemência do tempo e à intermitência das intempéries. O tecto é tanto o abrigo como a representação do abrigo - casa, protecção, conforto. Tecto, tectum. Não tétum.  E aqui importa explicar a feliz coincidência da proximidade entre arquitecto e tecto no português (5). Apesar dessa aparente vizinhança etimológica, ela não existe. Arquitecto vem do latim architectus a partir do grego arkhitéktōn (ἀρχιτέκτων), ἀρχι- (arkhi-, «chefe») +‎ τέκτων (téktōn, «construtor»). Tecto vem do latim tectum (cobertura), de tego (cubro), cognato com o grego antigo τέγος (tégos, «cobertura; qualquer divisão coberta de uma casa»).

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Paleta de som - Young Fathers : In My View + Angelo Badalamenti : Fire Walk With Me 
Imagem - Kinetic Drawings, Bairro Alto, Lisboa, Setembro de 2011

Composto enquanto saltitava na composição de outros dois textos durante tempos de pandemia, confinado em casa na Alta de Coimbra, Abril de 2020

Notas: 1) A partir da noção de flow, the psychology of optimal experience, postulada por Mihaly Csikszentmihalyi; 2) Imagino algo na linha de Sarah Kane, ver Pinter, também; 3) Editado pela Casterman, em 1982; 4) E também palpável no El Hoyo / A Plataforma, de Galder Gaztelu-Urrutia; 5) Caem os C mudos com o AO90, fica arquiteto e teto, eu escrevo com a grafia anterior.
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Ler as anteriores : BAIRRO ZINE 0.1BAIRRO ZINE 0.2 | BAIRRO ZINE 0.3 | BAIRRO ZINE 0.4 

20200501

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CRÓNICA CÓNICA 1.0
compras nos supermercados em tempos de covid19



















É tudo uma questão de distâncias. Ao sair de casa, neste tempo de pandemia, é mais importante manter as distâncias do que insistir nas aparências. Até porque o menos aparente é mesmo qualquer normalidade. Circulamos pela ruas e pelas avenidas como num bailado, como se descrevêssemos o acasalamento ritualizado de um par de pássaros que se vão medindo e entreolhando à distância, em crescentes voluptuosidades, amontoando piares e seduções a roçar o insuportavel. Piu, piu, dois metros, um metro, metro e meio. Mantém, mantém-te. Equidistantes na corte. Uma nova geometria para circular nas cidades inteiras. 

Como é que um pássaro mede a distância deste para aquele beirado, enquanto saltita entre um e o outro, peripatético; como é que um felino se apercebe da distância de si até à presa desejada, para melhor calibrar o salto; como é que mantemos a distância constante entre nós e o outro ao perambular assim pela rua? Das coisas mais complicadas, nesta orquestração espacial, é mesmo o fazer compras no supermercado. Não é tanto pelas filas que se formam para entrar no super ou no hiper, processo em que me vi a viajar um par de décadas até à adolescência, em que a filtragem era por número e equilíbrio de género à entrada da discoteca. O complicado é a manutenção das distâncias dentro de um espaço de coxias rasgadas a régua e esquadro que nos habituáramos a percorrer, ziguezagueando despreocupadamente entre expositores, escolhendo e analisando produtos e marcas com as mãos. 

O aparato do toque tornou-se complexo, cada gesto e cada escolha uma luta de ponderações. Levar o fruto e o tubérculo assim que neles se toca, depois da irremediável escolha pelo olhar, é um novo hábito. Já não há regras dos 15 segundos, se toca, é levar. Também não se pode abdicar de rodar as embalagens para estudar os ingredientes, mas é fazê-lo protegido. Tocar nos sacos, nos carros, no pão, o transporte dos artigos, o processo de pagamento e a recolha do talão e outros sei-lás, dezenas de pormenores que nos passavam ao lado, por irrelevantes e automáticos, têm agora que ser reconsiderados. O afã consumista reduzido a um lufa-lufa de preocupações nos seus detalhes. Já todos o dizem, o Demónio ocupou o lugar de Deus nos detalhes. 

Aparece então alguém ao fundo do corredor caminhando em sentido contrário, um pequeno pânico, imaginamos logo um duelo pelo espaço, como numa cidade do Faroeste. Duas opções se apresentam: bater em retirada ou passar por ele de lado, em movimentos de caranguejo. De todas as maneiras fica o sabor da derrota. Viral. E todo o equipamento: viseiras, luvas, máscaras, desinfectante, álcool gel, álcool. Circulamos com segundas peles para uma dose-extra de protecção. Até um simples encontro de olhares é uma quase violência, que afastamos rapidamente, chocalhandos desculpas internas. Esta é uma nova ficção-realidade, uma culpa colectiva que não sabemos explicar ou expiar. A saída por mantimentos abre inúmeras possibilidades de entradas ao vírus, daí que se instalem ansiedades. Para uns quantos portugueses até será das poucas idas ao exterior, assume-se então como passeio higiénico. Há então que ser higienizado, também mentalmente. Temos andado a conter o mercado dos afectos e o aparato do toque. Não apenas na prática e nos hábitos, na nossa cabeça também. Até que se terminem os enlatados e vaguem as estantes das despensas e tenha que se empreender umas próximas compras numa pandemia perto de si.

imagem: SARS-CoV-2 em CAD

20170426

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DIZBOA

Lisbogami

Dedifestos (não manifestos) que me trincam o cérebro assim ao calhas. 
Dei-lhes o nome de Lisbogamis:

#1 Vozes de recibo verde não chegam ao céu
#2 A ocasião faz o político
#3 O desempregado ladra, o governo passa
#4 A cada sentença é calar a boca
#5 A caravana passa a não ser que o cão morda
#6 Mais vale deixar os pássaros voar do que ter um qualquer na mão
#7 É não olhar para o dente do cavalo, ainda é dado a coices
#8 A culpa morreu viúva
#9 A fome só é o melhor tempero se não sobejar sal no despenseiro
#10 A justiça tarda, ainda prescreve
#11 Filho és pai não serás
#12 Bom filho em casa entorna
#13 Quem tem telhados de policarbonato, pode atirar pedras ao do vizinho
#14 Ácido em pedra dura, é que fura
#15 Águas movem sempre os moinhos
#16 Quem o feio ama, é porque é zarolho
#17 Homem grande, murro enorme
#18 A permanente da vizinha é sempre melhor que a minha
#19 Cada bacano no seu galho
#20 Para lá do Marão, ainda manda o Governo

20160915

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DESCOBRI-ME UMA PEDRA

e muitas mais além
então desenhei-as

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Desenho - feito na Casa do Bairro Alto, meados de 2010

20160820

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ORTE

Não é Horta, é Orte mesmo, ali para quem vem de Roma e segue até Orvieto. Há que parar e desfrutar.

20160320

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PHYSALIS 2.0

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Desenho - feito em Águeda, meados de 2013

20160120

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PHYSALIS

Sem poemas, não

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Desenho - feito em Águeda, meados de 2013

20151205

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PIRÂMIDE ETRUSCA

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Desenho - feito em Bomarzo, no meio das moitas, meados de 2015

20151120

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ME MOLA


Desenho - feito na Casa da Penha de França, meados de 2012

20151019

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NATUREZA COLHIDA

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Desenho - feito em Orte, Lácio, meados de 2015

20151007

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VIA DELLA ROCCA

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Desenho - feito à vista em Orte, Lácio, meados de 2015

20150220

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O VASO















































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Desenho - feito em Palazzolo Acreide,  Sicília, meados de 2015

20150110

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NANAS BA

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Desenho - feito por Águeda, meados de 2012

20141120

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FICHI D'INDIA

Foto trazida da Sicília. Por cá, em Portugal, não é da Índia, é do Inferno. Geografias.

20140402

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A insustentável leveza dos meus bolsos.

Para todo aquele que visita Lisboa, regurgita-se, nas mais insondáveis línguas disponíveis na cartilha de Babel, mas sobretudo em inglês, o cuidado quanto ao 28. Coninhas!

Apetece-me desenhar uma colecção de carteiras fiasco, fiasco marca, para manobra diversão aos carteiristas. 

20130502

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CARMA POLÍCIA

As forças de segurança impõem um respeito que se deve a não sei o quê. Eu próprio, numa coisa que alguém referia como um adulto índigo, num artigo lixo, sempre me rebelei e desconfiei das chefias. Não só porque gosto de estar eu nessa posição, mas porque lido mal, talvez devido ao meu crescimento e infância, a quem manda. 

20130328

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Faça fé no seu café. 

O Mané do Café e outros artistas que o usam como riscante. Conversa sobre alguém que um dia comentou a magia de beber café - não me recordo quem, mas a verve, bem, incrível. Também quero desmistificar o mito do Nexpresso, essa água suja.

20130320

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SEI LÁ EU















































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Desenho - feito na Casa da Penha de França, meados de 2013

20121220

´+´+´+ººººººººººººººººººº

OLHA-ME NA MENINA

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Desenho - feito em Palazzolo Acreide, Sicília, meados de 2015

20120925

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TOMAR OU BEBER

Não que me agrade tomar de ponta toda uma cidade, nem me movo por isso. Mas, e o mas surge aqui em sincero desconsolo, 

Não é que me agrade tomar de ponta uma cidade, mas é um desconsolo como se desmancham algumas ideias que se guardam da infância. No caso específico, que sou de Coimbra e rondei todas as proximidades em domingos familiares, a eloquência de Tomar. Durante o hiato que foi o não regresso a Tomar, alimentei a ideia de uma cidade que permanecia firme e rica no seu esplendor histórico e, como dou razão e vazão à história, sempre me pareceu que o firmasse em magnificência até ao presente. 

Muito me enganei ao regressar. 

No Verão de 2012, passei um par de semanas em reconhecimento tomarense. E o que remontava a uma recordação respeituosa, amonta agora apenas a uma tristeza e a uma falta identificada. Em determinadas falhas, a saber:

1. No Convento de Cristo, falta um circuito capaz e um percurso museológico bem delineado, com brevetes e explicações para quem o percorre. Olhar para uma pedra é diferente de olhar para uma pedra com legenda a acompanhá-la. Percebe-se de onde vem a pedra, como chegou a pedra aos nossos dias, como tratam dela no quotidiano e também para vai a pedra. Estas pedras merecem muito mais.

2. Centro da cidade despovoado, falta mais vida e gente e negócios locais. Não o Disneyfiquem, dignifiquem. Cheguei de comboio e caminhei desde a estação - demorei-me num café daqueles à antiga, espaçoso, bem cheiroso, airoso, majestático, solene. Mas o centro já não é este, é outro, mudou-se a centralidade para o lado de lá do Nabão. Este já só é o centro histórico, o que é uma pena, porque a história não foi apenas escrita, vai-se escrevendo. E aqui há muitas histórias que merecem continuar a ser contadas.

3. A falta de respeito na sinagoga. Um templo é sempre um templo e há tempos, outros lugares, para conversas. A pessoa que toma conta do espaço da sinagoga de Tomar embandeirava-se em conversa alta, arvorada sei lá de que manias, para toda a gente, fossem judeus ou outros que tais, ouvirem. Esta falta de respeito é atroz.

Então decidi compor uma carta e enviá-la aos OCS da cidade, em formato de cidadão interessado e usando as ferramentas de direito de resposta. Ou assim parecidas. A conversa com um natural da cidade confirmou as suspeitas, ele é um músico que se demora por Lisboa, sublinhando a necessidade de me fazer ouvir. Mas depois a ideia decaiu. Irei regressar. A Tomar e a este tema.

20120920

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DESCOBRI-ME OUTRA PEDRA

Entretanto perdi-a, arremessei-a? Sobejou o desenho.

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Desenho - feito na Casa de Santa Catarina, meados de 2009

20120426

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Cheira bem, será Lisboa?

20111225

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De como a sexta é a nova segunda-feira. Deambulo.

Quando era um pouco mais novo, assim mais pequenote, mas não muito, pensava e pesava tanto numa frase: todos temos direito a ser parasitas.

Mais tarde, numa sucessão de empregos mais bem ou outros menos bem sucedidos, de arquitecto a tudo o resto, fui-me dando conta. Mas se uma coisa não justifica a outra, não é por não gostarmos de um trabalho que temos menos brio em conduzi-lo. A forma como trabalhamos reflecte também uma forma de estar. 

Numa inversão de modo de estar, sugiro alteração dos hábitos de trabalho. Fazer apenas aquilo que se gosta. 

20110920

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SARILHOS NADA PEQUENOS

Palimpsestos contínuos, leituras despregadas, memórias levadas, deixadas. Sarilhos Pequenos. Ou seriam grandes?

20110426

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IDEIA

Recycland : furniture : bicho carpinteiro : bicho carpideiro

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Falta um texto que fale das oito colinas de Lisboa. 
Então mas não eram sete como as de Roma ou Jerusalém ou ainda Atenas? 
As colinas de Lisboa são quantas um homem quiser e desejar!

20100915

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Coisas que brotam ao desbarato:

Fazer um guia de como circular no passeio

Comparar Chiado com Morais Soares e comparar Lisboa com outras cidades. Horas de ponta e portas do metro. A fila como instituição. 

Fazer um livro de satisfação e livro de reclamação quanto a clientes. 

Preparar um guia com sinalefas.

20100520

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TEMPESTUOSAMENTE

Um dia chamei-me de finger_urge. É desmedida a vontade de carregar na máquina para fixar aquele momento fotográfico. Nem que me espete (daria um bom instantâneo).

20100403

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Quero tentar perceber por onde andou a Florbela Espanca em Lisboa.
Hotel na Praça da Figueira, é ver isso.

20100310

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OCO DE COLOMBO

Neste momento da minha vida, trabalho continuamente, sete dias por semana, parece que a todas as horas do dia. Esquisso mentalmente bonecos voodoo para espetar neles todas as agruras quotidianas. 

20100202

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Uma ideia que aflora e me sussurra: florigami!

20091210

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REUNIÕES



Reuniões… algum tempo deixado de parte esperando que o desenhasse e pessoas… pessoas falando e assumindo poses, abrindo a boca e gesticulando. É um palco e uma força de expressões que pedem mesmo que as fixe em esboço. Divaga a mão sobre o papel enquanto se prende a mente no que é comentado. Reuniões. E é reciclar o reciclado em linhas de café. Reuniões decisões alinhavadas em linhas de café. 

Imagens - 1ª, 2ª e 4ª - esquissos a caneta, de várias reuniões; 3ª - V. em conversa com café de vão de escada na LX Factory, traços a manchas de café e migalhas

20091006

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APONTAMENTO de Outubro

Eu não sou este – mas interpreto. Desfaço-me de folhas em sucessão onde a ideia dificilmente se brota – seria talvez melhor se fora um escritor de bloqueio do que um em bloqueio. Bloqueado estaria e em vez de preencher a folha de caracteres somando ideias preencheria o chão de folhas vazias ou gatafunhadas em treta. 

Ideias chave para utilizar depois: escritor de escrita bloqueada – autobiografia do escritor em bloqueio – cadavre exquis intermitente.

20090928

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BAIRRO ZINE 0.4
carta desd'o bairro
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(1) O BAIRRO JÁ ERA - triangulação espontânea
(2) SISTEMATIZAR FOMES - rumo ensaio
(3) O EXCESSO DE VIAGEM - ensaio a uma inveja
(4) AMORCÃO - teórico amorizações
(1) O BAIRRO JÁ ERA - triangulação espontânea

Tento manter isto curto - tento ser rápido e manter isto limpo - sistematizar, ser lacónico, sintético, metódico, imediato. Sem ladainhas, sem confusões, aparelhos, figuras de estilo, rápido. Nada de pausas, deambulações, artifícios, artefícios, peregrinações pela palavra ou atavios de conceito, solto, simples, clean, sem dissertar, sem me perder e vos perder no processo. Sem intróito, nem outras perdidas, sem desvios, atavios, desafios, directo portanto. Breve, sem demasiadas palavras, sem prolixidade, objectivo, conciso, preciso, sem excesso de palavras. Sem ser inútil e cansativo, nem fastidioso, nada. Escrito automático, solto. Espontâneo.

Saí do bairro, o bairro já era, mas se digo ainda que estou no bairro é porque o bairro é outro que não o Bairro, mas outro bairro qualquer bastante e também bairrista - e talvez ainda mais bairrista do que o outro bairro, o tal Bairro. Mas eu continuarei a responder sempre à pergunta que me dedicam, de onde vens, onde vives, com um mecânico: «do Bairro».

Serão os detalhes geográficos tão necessários para que nos saibam?

(2) SISTEMATIZAR FOMES - rumo ensaio

Ler. Comer. Dormir. Sexo. A curiosidade matou o homem e fê-lo querer mais e crer mais também. Porque grafamos homem se ao dizê-lo englobamos também a mulher? Ensaio linhas de livros por encadernar. Escreverei prefácios - só. Serei um eterno escritor de livros em construção. Operário em construção? Sempre - de linhas. E o conceito? Terá sempre que ser vencedor - sempre - conceituar conceptualmente rumos ao consumidor. Uma receita de sucesso em publicidade. E o que é a publicidade? É tudo na vida. A publicidade estimula a curiosidade, lês um livro porque o vês e comprarás imediatamente se a capa for atraente. Se surgir por sugestão - essa referência não passa de publicidade encapotada, é o anúncio por terceiros na verdade.

Comes aquilo que saciou o olho, a comida confecciona-se para estimular este em primeiro, a publicidade aqui é ao palato via nervo ocular. Dormir, que engano. Adoraria não precisar, tanta hora perdida para depois retomar o dia e fechar o ciclo dormindo, mas isto em eterno retorno, sempre. O estímulo aqui é cultural - se bocejam ao meu lado, terei que bocejar também e nem o apercebo. Só depois de cumprido o abrir de boca. E sexo? Querem maior exemplo para a intervenção publicitária na errática vida do ser humano? A indumentária é essencial, os humores do corpo delicadamente escondidos sob perfume, o galanteio e o charme camuflados qb em espera de uso providencial, tudo estudado e calculado para a percepção do outro e para o encontro de corpos. É isto, está comprovado. O ser humano não passa de um publicitário. Quem surgiu primeiro então, a publicidade ou o publicitado?

(3) O EXCESSO DE VIAGEM - ensaio a uma inveja

Ah como odeio quem viaja constantemente, quem por aí anda percorrendo viajando o mundo, quem se move locomove por aí, como odeio quem me responde dizendo Paris - Moscovo - Fez fiz. Como utilizo eu aquela interjeição? Como me inflamo por tão pouco e depois o escrevo como apropriado? Se odeio quem viaja não odeio verdadeiramente quem o faz - detesto sim naquilo que se transforma. Não odeio a pessoa, invejo o viajante nela. E invejo sim, invejo - porque o quero também, porque me quero ver viajante também, concorrer em não sei quantos países por esse mundo e voltar dizer contar mostrar também a outros. Isto vi e percorri, construindo então enquanto o digo irónico um sorrisinho detestável de experiente e conhecedor caixeiro.

Da próxima vez que comigo partilharem uma viagem - e há sempre uma próxima, sempre há, milhares de viajantes nascem todos os dias e muitos a mim desaguam contando história de mil e uma noites - direi perfazendo uma mentira, já o fiz, já o vi, já conheço, já lá estive, é bonito sim, é interessante, desgostei daquilo, fui maltratado ali, inventando nomes de lugares e de ruas que serão impossíveis de verificar. Afinal, li o Cidades Invisíveis, por dá cá aquela palha é facílimo inventar cidades e história tirando-as do bolso, já construídas e tecidas em credibilidade.

(4) AMORCÃO - teórico amorizações

Diz-me tu se o amor não é por vezes amorcão? Se algo há que termina - naturalmente e por mais que se diga que tudo tenha terminado em bem, nunca isso é verdade. Pois se algo termina e o termo aqui é bem explícito - terminar - é porque é em estado de mal (estar, fé, dizer, etc...). Se acabasse em bem não acabaria - continuava. Pois se termina é porque mal estava e se bem estivesse, terminaria apenas na cama. Ponto.

A consciência de que o amor é cão - amorcão, aquilo a que chamo a uma forma de estar e de comportar e reagir após relações desavindas (aproximando-me ainda mais ao conceito digo que amorcão é esse estado de suspensão e afastamento dos outros - ou de agressividade sobre os outros, isto depende de quem se trata - em que nada ou muito pouco parece realmente interessar além do sentimento de desfasamento que temos sobre o/a tal com quem estávamos) - surge sempre após período de insatisfação, ou seja, imediatamente antes de terminar seja o que for que se tenha iniciado. E se insatisfeito se estava é porque - e ajudem-me aqui - algo estaria correndo mal! Bingo! E perdão então se me socorro do gerúndio para me debruçar sobre isto, mas é que é tão delicioso quanto é explícito.

Vejamos um teste sobre as relações humanas. Vamos estando - revelador de que terminarão breve ou que se aguentam em relação mais ou menos atrozmente. O gerúndio é a melhor forma verbal para justificar aquilo que é passageiro ou efémero! É perfeito não o é?

E desculpem lá outra vez - ando a ler novamente Dostoievski e isso reflecte-se em deambulações de estilo!

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Paleta de som - Animal Collective > Peacebone  + The Kills > Tape Song

Imagem - Bairro Alto, Lisboa, Agosto de 2009

Composto enquanto jogagueava com LED no Pai Tirano (antigo Animatógarfo), Bica, Lisboa, Setembro de 2009

20090610

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QUE FAREI QUANDO TUDO ARDE?
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Teatrinho de sombras, palco do mundo, bailarinos sobre um soco de Lobo Antunes e rodeado de piras de cera, dança Matisse desde um grupo dobrado a metal. A sombra que resulta é dos seus corpos em movimento. O lobo e as luzes.

Local - Casa de Santa Catarina, Lisboa

20090506

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CHIMONIZ

Aos entrelinhados nos lostes em translations...

Sou um regular do Martim Moniz. Não fico preso em nenhuma porta e rondo pela Mouraria, o nome mais apropriado que encontro nos nomes de Lisboa para a população que ali perambula. O que me menos me agrada é ser incompreendido e sentir o olhar de desaprovação ou de desconfiança. 

Mas nunca deixarei de gostar deste bairro de Lisboa.

Talvez seja necessário levar escrito, apontado em glossário, meia dúzia de linhas apenas:

1 Como dizer determinadas coisas em chinês, para o pragmatismo de certas trocas comerciais;

2 Glossário em romeno ou romani, simplificado, frases de enxota ou de deixa-me estar;

3 Dicionários e guias para a Pakistona, a Chinaria e o Chimoniz.

Estarei achado.

20080529

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BAIRRO ZINE 0.3
a carta desd'o bairro
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(1) ROSEBUD(DY) - ensaio algo-assim-são
(2) JUGULAR - andamento suave
(3) FEIRA DA LADRA - livro de viagens de dentro de mim
(4) O JOGO E AS GENTES - formato pensado
(1) ROSEBUD(DY) - ensaio algo-assim-são

Rosebud foi a última palavra a soltar-se da boca de Charles Foster Kane no filme de Welles e que serviu de mote a toda uma busca sobre a essência de uma vida e a um revolver do passado cheio desse homem muribundo que soçobrava libertando o mundo que abraçou. Não era mais que uma palavra obscura balbuciada pela personagem central do filme que reflectia um outro cidadão americano bem real - WRHearst - e que levou a uma falhada e intensa busca pelo nada! Não somos mais que meros acumuladores de experiências em contínuo crescendo - cumulando, acumulando, acrescendo, crescendo - depositamos em nós tanto ao longo de tantos anos que se torna quase irónico que se resuma em última frase de vida todo um existir! Somos um depósito, uma caixa, um invólucro, uns capturadores de imagens, uns recolectores de memórias!

Apetecia-me fazer aqui um pequeno apanhado das grandes frases do ocaso mas fico-me pela do tesouro luso, Camões, a quem colocaram na hora da morte o seguinte dito que acompanhava a crise de sucessão do momento: 'Morro com a pátria'.

Não podemos resumir tudo o que temos de vida numa frase só de momento só e a frase de Camões - mítica e teatral - foi encaixada ali pelos potenciadores de mitos. Talvez que com o meu último sopro se me despegue algo como falta-me aquilo na despensa ou um ai pelo jogo esquecido de apostar. Poder-se-á prever algo que faremos com tanta antecendência e nitidez? Poderias prever estar a ler isto que lês agora, sorrindo então pela óbvia referência a ti próprio? E que frase empregarias no último momento- caso fosse possível a escolha - ficaria de epitáfio solene em estertor final?

Repousa de mim. Jaz por terra.

(2) JUGULAR - andamento suave

Prendeu-se na minha memória uma peça de videoart de João Tabarra que vi no início do ano passado e que mostrava um sapateador com uma caraça colocada - oculto portanto - percorrendo um trajecto pré-estabelecido pelas ruas de Lisboa, do Marquês até ao Rossio. Todas as pessoas a quem o artista se apresentava, assim insólito sapateando pela rua e mascarado, ficavam surpreendidas. Esse era a verdadeira intenção da peça e a natural confusão induzida nos transeuntes a arte em si! Paravam todos e questionavam-se, sorriam uns, agitavam a cabeça outros, uns ficavam perplexos procurando apoio sobre o ridículo a que se achavam assistir, outros fingiam-se desinteressados para estancarem mais à frente, volteando-se - isto faz apetecer provocar as pessoas continuamente, perpetuando um estado de contínua dúvida e apelando à crítica. Não é verdadeiramente isto a que se poderá chamar a arte, não seria esta uma definição próxima?

A jugular é uma das nossas veias fundamentais, um dos vasos sanguíneos essenciais que na volta do sangue para o cérebro se esvaziou de oxigénio por ali e vem alimentar novamente o coração em eterno retorno. Em Eterno Retorno. O homem que segue sapateando em circuito fechado (em percurso do início para o fim - ponho mentalmente o filme em loop - mas sempre temos que caminhar, até desaparecermos) e o cíclico fluxo sanguíneo são exemplos da continuidade e alternância em tudo o que existe, faces da moeda de vida em que seguimos, em rotação perpétua.

Como se chama o montículo de carne do lado esquerdo da palma da tua mão, abcesso do polegar, logo acima do pulso? Imagino-te rodando a mão identificando o tal pedaço de carne de que falo - gesto ridículo já que a resposta não está cravada na pele, mas sim no fundo do zine.

(3) FEIRA DA LADRA - livro de viagens de dentro de mim

De todas as hipóteses para o étimo do mercado franco de Lisboa - para a Feira da Ladra - agarro-me mais aquela que me parece mais certeira: de Lázaro, ladro, lazarento, miserável - pois é da miserabilidade e da necessidade humana em recorrer a todos os possíveis expedientes de que estas feiras sobrevivem. Perco-me muita vezes por aí, tentando descortinar histórias e imaginando-me a vender algo também - só me faltam objectos, preciso de coisas de que possa dispor.

O sorriso do sinaleiro do Príncipe Real recebe-me agora todas as manhãs em que sigo para o trabalho de carro - somos conhecidos de passagem dos dias e sigo pensando que mesmo que o cumprimente e receba um assentimento cúmplice na volta, não lhe conheço a voz de todo - gargalho imaginando-a feminina, aguda.

Barcelona recebeu-me mais uma vez este mês e refrescou-me de amigos novamente o estar de tarde na Ciutadella e o deambular tonto por aquelas ruas mágicas, Miró, Tàpies, Barceló, Fura, Calder, Dali, Coderch, Miralles, Picasso.. ). Voltei ainda a Coimbra aonde não ia já desde Fevereiro, revi tanto que não parava de sorrir em gosto de forma - @corvo foi belíssimo, obrigado, gostei do detalhe do pedaço meu escrito ainda na parede. E em encontro de amigos ouvindo James em Queima de reencontro - eu e os meus irmãos repetindo dez anos depois o mesmo concerto que foi o nosso primeiro festival no Porto! É possível permanecer intocado com tanto toque de bom em simultâneo?

Faço também um requiem por uma amizade mais do que isso e festejo os miradouros de Lisboa - sol, gentes e livros e celebro três coisas de bom, dois projectos novos que estão em ebulição e que desvendarei prontamente mais à frente : cs e spotted by locals lisbon e a publicação de um trabalho meu num catálogo de exposição : vitrakem by pavicer.

(4) O JOGO E AS GENTES - formato pensado

Já não me recordo totalmente como me surgiu este, vão-se tornando cada vez mais difusas com o avanço dos dias e das horas determinadas revelações.

Voltou-me a ideia quando seguia na composição maior da linha azul do metro de LX por uma destas manhãs habituais de ida para o trabalho - olhava o fundo das três carruagens amarradas entre si sibilando pelo corredor subterrâneo, reparando como esse me desaparecia da vista nas curvas mais apertadas do percurso.O jogo e as gentes e a visão das coisas - recusamos o que não vemos ou não compreendemos para seguir mais confortáveis, agilizamo-nos para resumir imediatamente o que nos interessa e tentamos acarinhar quem nos é importante. Quem é jogador ocasional e se esquece de apostar (falo de um apostador esporádico, que os regulares jamais se esquecem) insiste em ver o resultado, sofrendo se a sua aposta não lançada é a vencedora ou faz por esquecer e nem se preocupa?

Não é esta uma maneira rápida de nos resumirmos e a vida assim também - somatório de perdas e conquistas, apostas feitas continuamente, outras esquecidas e algumas ganhas - em Eterno Retorno, em constante intermitência?

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Paleta de som - Sneaker Pimps > Six Underground (som eleito de casa) + The National > Fake Empire (de MP3 vogando pela cidade)

Imagem - Luz nas ruas, Príncipe Real, Lisboa

Notas - (1) o filme, Citizen Kane; (2) teoria do eterno retorno, Nietzsche; montículo da mão, Monte de Vénus; (3) flea market, swap meet, marché aux puces, feira da ladra, bazaar, mercadillo; as que conheço são as de encants vells em Barcelona, el rastro em Madrid, portobello road em Londres e a da ladra em Lisboa (no entretanto passei pela vandoma, Porto; feira sem regras, Coimbra; place du jeu de balle, Bruxelas; o flohmarkt/naschmarkt em Viena; zandfeesten em Brugge e outros em Gent, Hamme e Berlim); (4) linha azul, da gaivota