20080413

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BAIRRO ZINE 0.2
a carta desd'o bairro

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(1) POMBOS DE MIM - ensaio de mim
(2) O CIRCO DO BAIRRO ALTO - pequeno ensaio sobre uma busca
(3) NOVAS IMEDIATAS - assuntos dispersos
(1) POMBOS DE MIM - ensaio de mim

Dizia-me alguém há pouco tempo após ler algo de mim - sem tirar quaisquer outras conclusões, sem nada mais apontar, o que me irritou quase até ao infinito: 'Eu estou numa onda de ficção, não tanto autobiográfica...', enquanto me passava o manuscrito para a mão descolando-me o sorriso.

Autobiografia... resume-se o que escrevo a pedaços de mim fitacolados em papel em sucessão de umbiguismo, escrito escritos pontapeados sobre a folha expondo este Rafa e as suas coisas de Rafa? Não quero ser nem Miller nem Gutierrez, nem Lobo Antunes, nem Bukowski - partilho com os outros aquilo que vejo e sinto e sou e fico assim etiquetado, engavetado num rótulo de Autobiógrafo.

Sobrevem-me o superego sobre o ego por andar em constante sobressalto para acalmar esta angústia de nada conhecer por mais que conheça, doo-me a ti porque me espelho em todos os que seguem angustiados na senda da cura desse estado de ser - tu. 'Não me parece angústia, é sede de saber!' - dizia outro alguém; mas é angústia é, porque é quase tangível este desejo de tudo abarcar e tudo aperceber e que segue ainda e cada vez mais presente como inalcançável. 'Ignorance is bliss', é possível que seja verdade, mas é tão sensaborão!

Ainda no outro dia era eu um grande ponto de interrogação e dizia-me ela sobre tudo isto: 'Falta-te um rumo, mostra algo às pessoas que lhes diga algo, que lhes capte a atenção'. Um rumo é algo que requer demasiado planeamento e eu vejo-me ziguezagueando por aí, sempre; este rumo soaria a falso porque não espelharia este escriba porvir, esta tentativa ainda insossa de alguém que se quer fazer por letras.

Dois pombos habitam a caixa de estores do andar desabitado logo abaixo do meu, inalcançáveis. Empoleiram-se sobre os estores durante as tardes solarentas e acomodam-se enroscando-se quando cai a noite, cagando-me a entrada do prédio com a precisão de um F117 de mira calibrada sobre quem entra e sai. Tenho já o tique de antes de meter a chave à porta e de me esgueirar - porta dentro, porta fora - de virar o olhar para cima, procurando esquivar-me de algo ou de tudo que se solte lá de cima, desde um quase longínquo terceiro andar.

Todos os dias lá estão e não lhes posso tocar nem de sopro. Que melhor metáfora para a vida do que o estar sempre receoso com o toque da imundície e seguir sempre saltando para nos cumprirmos?

(2) O CIRCO NO BAIRRO ALTO - pequeno ensaio sobre uma busca

Seduz-me saber mais do que sei sobre o sítio onde habito - continuamente e em crescendo - porque não há melhor ambição geográfica do que conhecer realmente o chão que pisamos no quotidiano, ainda que por alguns dias ou meses. A nossa casa - a tal reconfortante ideia de lar - realiza-se plenamente ao juntarmos à percepção real deste espaço entre estas 4 paredes que me confinam agora e aos seus apêndices compartimentos, a noção da casa vizinha, do prédio em frente, da rua, da calçada e suas pedras, do quarteirão e do bairro, da colina e da cidade toda, das lojas e das pessoas e suas preocupações.

Tratar pelo nome o dono do café próximo e partilhar com ele o resultado do futebol, lidar tu cá tu lá com a senhora da mercearia de última hora e ter guardado de antemão o melhor e mais fresco produto da casa, não abrir a boca estremunhado pela manhã ao entrar na pastelaria da esquina e ser presenteado com o costumeiro pequeno-almoço.

No BA, neste Bairro Alto onde respiro, tenho para já três ambições de pesquisa, a saber: desvendar a história e origem da Escola de Circo do Bairro Alto; investigar a sua génese teatral, relacionando-a com a Rua Luísa Todi, onde viveu Silva Porto e saber mais sobre quando o BA era o núcleo jornalístico da cidade, onde existe ainda A Bola, último sobrevivente noticioso e onde já laboraram O Século, A Capital e o DN, entre imensos outros.

(3) NOVAS IMEDIATAS - assuntos dispersos

Caros, entrego novas sobre este que se vai despedindo, entregando-se a um sono lento entorpecedor; qualquer escrito tem que terminar assim, revendo-me e anunciando-me. De concursos, perdi o Távora mas fiquei em 2º no de cenografia para As Boas Raparigas, do Porto (alguém o disse, nunca o consegui confirmar); perdi o Maria Matos, mas fiquei em 4º no Pavicer, com direito a exposição e publicação (a empresa acabou por falir no decurso de 2015-16?). 

Do mais o mais importante é mesmo o M+A+L : www.movimentoacordalisboa.com (entretanto descontinuado), que corre destemido e resoluto em chocalhar LX.
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Paleta de som - PJ Harvey > We Float

Imagem - Ensaios com fibra óptica, Carpe Diem, Lisboa

5 comentários:

  1. Anónimo16:26

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  2. Anónimo12:20

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  3. Anónimo11:48

    MY FRIEND..continua a escrever assim k vais alcançar ainda UMA GRDE CARREIRA...a escrita corre-t nas veias, nota-se k flutuam LETRAS, PALAVRAS, FRASES tdas com sensaçõES, EMOÇÕES....GOOD LUCK...

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  4. Anónimo11:48

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  5. Bah!! Nada disso! Fazes bem em ser autêntico... Escreves o que sentes e não para que o sintam... Senão a tua escrita seria apenas um fragmento de ti! Continua... Mt bom mm!! ;);)

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