20090928

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BAIRRO ZINE 0.4
carta desd'o bairro
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(1) O BAIRRO JÁ ERA - triangulação espontânea
(2) SISTEMATIZAR FOMES - rumo ensaio
(3) O EXCESSO DE VIAGEM - ensaio a uma inveja
(4) AMORCÃO - teórico amorizações
(1) O BAIRRO JÁ ERA - triangulação espontânea

Tento manter isto curto - tento ser rápido e manter isto limpo - sistematizar, ser lacónico, sintético, metódico, imediato. Sem ladainhas, sem confusões, aparelhos, figuras de estilo, rápido. Nada de pausas, deambulações, artifícios, artefícios, peregrinações pela palavra ou atavios de conceito, solto, simples, clean, sem dissertar, sem me perder e vos perder no processo. Sem intróito, nem outras perdidas, sem desvios, atavios, desafios, directo portanto. Breve, sem demasiadas palavras, sem prolixidade, objectivo, conciso, preciso, sem excesso de palavras. Sem ser inútil e cansativo, nem fastidioso, nada. Escrito automático, solto. Espontâneo.

Saí do bairro, o bairro já era, mas se digo ainda que estou no bairro é porque o bairro é outro que não o Bairro, mas outro bairro qualquer bastante e também bairrista - e talvez ainda mais bairrista do que o outro bairro, o tal Bairro. Mas eu continuarei a responder sempre à pergunta que me dedicam, de onde vens, onde vives, com um mecânico: «do Bairro».

Serão os detalhes geográficos tão necessários para que nos saibam?

(2) SISTEMATIZAR FOMES - rumo ensaio

Ler. Comer. Dormir. Sexo. A curiosidade matou o homem e fê-lo querer mais e crer mais também. Porque grafamos homem se ao dizê-lo englobamos também a mulher? Ensaio linhas de livros por encadernar. Escreverei prefácios - só. Serei um eterno escritor de livros em construção. Operário em construção? Sempre - de linhas. E o conceito? Terá sempre que ser vencedor - sempre - conceituar conceptualmente rumos ao consumidor. Uma receita de sucesso em publicidade. E o que é a publicidade? É tudo na vida. A publicidade estimula a curiosidade, lês um livro porque o vês e comprarás imediatamente se a capa for atraente. Se surgir por sugestão - essa referência não passa de publicidade encapotada, é o anúncio por terceiros na verdade.

Comes aquilo que saciou o olho, a comida confecciona-se para estimular este em primeiro, a publicidade aqui é ao palato via nervo ocular. Dormir, que engano. Adoraria não precisar, tanta hora perdida para depois retomar o dia e fechar o ciclo dormindo, mas isto em eterno retorno, sempre. O estímulo aqui é cultural - se bocejam ao meu lado, terei que bocejar também e nem o apercebo. Só depois de cumprido o abrir de boca. E sexo? Querem maior exemplo para a intervenção publicitária na errática vida do ser humano? A indumentária é essencial, os humores do corpo delicadamente escondidos sob perfume, o galanteio e o charme camuflados qb em espera de uso providencial, tudo estudado e calculado para a percepção do outro e para o encontro de corpos. É isto, está comprovado. O ser humano não passa de um publicitário. Quem surgiu primeiro então, a publicidade ou o publicitado?

(3) O EXCESSO DE VIAGEM - ensaio a uma inveja

Ah como odeio quem viaja constantemente, quem por aí anda percorrendo viajando o mundo, quem se move locomove por aí, como odeio quem me responde dizendo Paris - Moscovo - Fez fiz. Como utilizo eu aquela interjeição? Como me inflamo por tão pouco e depois o escrevo como apropriado? Se odeio quem viaja não odeio verdadeiramente quem o faz - detesto sim naquilo que se transforma. Não odeio a pessoa, invejo o viajante nela. E invejo sim, invejo - porque o quero também, porque me quero ver viajante também, concorrer em não sei quantos países por esse mundo e voltar dizer contar mostrar também a outros. Isto vi e percorri, construindo então enquanto o digo irónico um sorrisinho detestável de experiente e conhecedor caixeiro.

Da próxima vez que comigo partilharem uma viagem - e há sempre uma próxima, sempre há, milhares de viajantes nascem todos os dias e muitos a mim desaguam contando história de mil e uma noites - direi perfazendo uma mentira, já o fiz, já o vi, já conheço, já lá estive, é bonito sim, é interessante, desgostei daquilo, fui maltratado ali, inventando nomes de lugares e de ruas que serão impossíveis de verificar. Afinal, li o Cidades Invisíveis, por dá cá aquela palha é facílimo inventar cidades e história tirando-as do bolso, já construídas e tecidas em credibilidade.

(4) AMORCÃO - teórico amorizações

Diz-me tu se o amor não é por vezes amorcão? Se algo há que termina - naturalmente e por mais que se diga que tudo tenha terminado em bem, nunca isso é verdade. Pois se algo termina e o termo aqui é bem explícito - terminar - é porque é em estado de mal (estar, fé, dizer, etc...). Se acabasse em bem não acabaria - continuava. Pois se termina é porque mal estava e se bem estivesse, terminaria apenas na cama. Ponto.

A consciência de que o amor é cão - amorcão, aquilo a que chamo a uma forma de estar e de comportar e reagir após relações desavindas (aproximando-me ainda mais ao conceito digo que amorcão é esse estado de suspensão e afastamento dos outros - ou de agressividade sobre os outros, isto depende de quem se trata - em que nada ou muito pouco parece realmente interessar além do sentimento de desfasamento que temos sobre o/a tal com quem estávamos) - surge sempre após período de insatisfação, ou seja, imediatamente antes de terminar seja o que for que se tenha iniciado. E se insatisfeito se estava é porque - e ajudem-me aqui - algo estaria correndo mal! Bingo! E perdão então se me socorro do gerúndio para me debruçar sobre isto, mas é que é tão delicioso quanto é explícito.

Vejamos um teste sobre as relações humanas. Vamos estando - revelador de que terminarão breve ou que se aguentam em relação mais ou menos atrozmente. O gerúndio é a melhor forma verbal para justificar aquilo que é passageiro ou efémero! É perfeito não o é?

E desculpem lá outra vez - ando a ler novamente Dostoievski e isso reflecte-se em deambulações de estilo!

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Paleta de som - Animal Collective > Peacebone  + The Kills > Tape Song

Imagem - Bairro Alto, Lisboa, Agosto de 2009

Composto enquanto jogagueava com LED no Pai Tirano (antigo Animatógarfo), Bica, Lisboa, Setembro de 2009

2 comentários:

  1. andas a fumar outra vez? :D muda é o template pá, fundo cinzento escuro com letra preta n dá com nada...se for só do meu browser então peço desculpa :D

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  2. caro johnny, resolvido ---->

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