20050901

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20050707 – 5h da manhã

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Estou num daqueles momentos de introspecção, a meditar em tudo e tudo me passa pela mente. Entre os demais pensamentos lembrei-me que precisava de lavar o interior do meu carro, pois tinha reparado ontem que estava cheio de pó, de terra, de desperdícios de tabaco e pés deixados por sei lá quem que o co-habitou comigo por escassos minutos.

Como a meditação solitária parte de uma vontade de clarificar ideias e permite atingir um estado de temporária e invulgar lucidez (pelo menos para mim funciona assim, para outros de outra maneira funcionará), pensei, nesse estado de harmoniosa clareza: Deixa-te disso, és preguiçoso q.b. para o lavares sozinho, não te podes dar ao luxo de gastar o guito para outros o lavarem e, além disso, é bonita a ideia de manter aqueles pedaços de vivências que estão ali a recordar coisas passadas. Como coisas tão triviais nos ocupam a mente nos momentos que pedem objectos de análise mais profundos!

Os sedimentos nos tapetes, a poeira castanha na consola (tablier aportuguesado) e a cinza de cigarro (e queimadelas também) puxam-me a memória de acontecimentos já quase esquecidos. Viagens, noitadas e fugas assomem-me agora à mente, numa visão feliz que recordo com um traço mais redondo sobre a face: um sorriso aberto!

Os tapetes têm terra de tantos e tantos amigos que, condensada numa única forma sólida, daria um novo amigo de terracota e pedra, modelado à imagem de vinte diferentes pessoas! Tantas pegadas de tantas viagens de tantos lugares aqui se acumulam! E o pó castanho avermelhado que persiste sobre os plásticos da consola? Trazem Zambujeira, Algarve e Paredes de Coura à memória do momento... Noites e dias de Aveiro, Leiria, Coimbra e Porto aparecem também, amigos e amigas! Até um beijo de boca feito pó aqui já existiu, pelo exterior do vidro! Mas este o vento e a chuva trataram de apagar, foram esvoaçando os últimos grânulos até não ficar nada de nada. Réstias de momentos bons que vivem no carro e na minha memória...

Ok, estou a tentar embelezar uma coisa que talvez não seja assim tão bela, é uma desculpa para eu não lavar a merda do carro...

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Ao pensar no pó no/do meu carro recordo outra coisa que adoro: os mails que foram pela enésima vez reenviados e, que me chegam à caixa de correio com este aspecto: Fw:Fw:Fw:Fw:Coiso e tal como assunto!

Para a maioria das pessoas isto é de uma chatice brutal, abrir vinte janelas só para ver um mail que pode nem valer a pena tanto teclar de rato? Eu vejo isto por outro prisma. Vejo que a mensagem foi vivida por tantas diferentes pessoas, por momentos lida, gargalhada ou não e, dependendo do seu interesse, reenviada! O mail viaja, respira, ao sabor de cada novo leitor. Nestes mails o que me prende mais a atenção são os nomes que estão, que fazem parte das mailing lists anteriores à minha recepção... Tanta gente que leu o que estou a ler! Como serão estas pessoas, o que fazem? Também se terão questionado e impressionado e até sorrido (pela emoção da partilha), ao ver outros nomes no histórico do documento? É provável que não... Talvez sim, quem sabe...

No entanto, acho a ideia de um mail circular por tanta gente, bela; como que se uma folha de papel com um poema escrito fosse, circulando por mãos e pensamentos variados, numa partilha contínua.

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