20080117

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ESTADIAR

Fernando Pessoa morreu em 30 de Novembro de 1935, no Hopital de Saint Louis (Hospital dos Franceses), ao Bairro Alto. O edifício ainda existe com a mesma função e nome, encaixado entre a Rua da Rosa e a de São Boaventura e onde vai morrer a de Luz Soriano (do outro lado do pequeno adro espera-se uma nova pousada que está quase quase concluída). A fachada da casa de saúde orientada para a Rosa e a do beco ordinário que liga esta à Luz Soriano, vivem preenchidas de cartazes e stencils, que já me conhecem de tanto parar a contemplá-los, quase todas as noites e fins de tarde. 

Recordo aquela apoteose de som no Catacumbas em noite de Jam de Segunda-Feira. Saíramos às duas completamente exaustos, com os músicos a abraçarem-nos logo depois de nos terem elevado pela música de sete vezes sei lá quantos instrumentistas a improvisar e com eles os instrumentos todos! À Segunda-Feira o Jazz no Catacumbas, à Terça Blues na mesma casa, à Quarta Jazz no Lux e todos os dias - tirando o Domingo e a Segunda, o HCP. 

Algumas vezes também fez parte do meu tempo perdido em fim de semana desaparecido, deixar-me estar pelo Adamastor até de dia, até ao dia raiar, até não existir mais escuridão; muito depois do Adamastor e do Noobai e mesmo do Souk terem fechado. Sabem que existe por aqui um hostel, bem aqui em Santa Catarina? Se vogo perdido por estas ruas novamente é por gostar demasiado delas e ainda mais quando vazias de gente, sendo só terra e ar, pedra e silêncio, quietude de caminhada e eu com elas.

Se recordo mais, ainda me surgem outros motivos para prolongar o passeio madrugador. Todas as loucuras que se cometem por amor, surgem no início ou no fim de uma relação; ou no momento em que a felicidade é máxima e em tudo as pessoas se excedem ou no fim, quando já existe a percepção de que algo vai mal e em que tudo tentamos para revitalizar o que já irremediavelmente vai fenecendo. Não que o meio da relação seja terreno infértil, não o é, de todo, será é menos propenso a delírios e excessos.

Depois de mais uma noite de Sábado a Estadiar – beber, estar e conversar no Estádio - com um dos meus mais fortes ex-namores e, já em presumível e depois materializado fim de longa relação, apeteceu-nos ir até ao Pavilhão Chinês para beber um chá e absorver as miniaturas, todos os pequenos gadjets e action figures. Nesta deslumbrante ex-mercearia, os mais tarde também ex, decidiram partir numa última loucura.

Decidimos embarcar até ao Algarve em loucura de Sábado à noite, uma e pico da manhã. Correndo correndo pela estrada - os que depois se apartariam e que talvez já fugissem de algo prenunciado - chegaram com o luminoso dia a erguer-se e deitaram-se na praia, recebendo o Sol no seu inexorável percurso de morte e renascimento.

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Foto - de viagem a Shanghai, vista desde o Bund, Setembro 2011

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