20080126

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MOMENTO EM SAVING PRIVATE RYAN

Visto em slow motion devia ser este o pior momento do cinema, o mais rude e cruel, mas assim, rápido como a vida, pode ser ainda mais brutal do que esta porque adveio da guerra, essa última satisfação do homem, essa de sobrevir sobre os outros - pela força da arma arremessada e da loucura e da tirania e da cor do vermelho expulso em sangue. 

Este não quer ser um manifesto, antes um comentário que já de si se manifesta, que já de si se contorce, por este momento do filme ‘Saving Private Ryan’, de Steven Spielberg. Falo do instante em que Mellish luta com Steamboat Willie, americano vs. alemão, puxando tudo o que de mau existe dentro deles, instintivamente e ainda mais, lutando, cegos cegos, para sobreviver um sobre o outro. Até à morte que foi, seca!

Mas falta resumir o antes, para perceber como mais dolorosa se torna ainda a visão destas imagens: Steamboat Willie foi libertado como único sobrevivente de um assalto a uma bateria alemã. Mellish é um judeu americano que recuperou uma faca da Juventude Hitleriana do cadáver de um soldado alemão. Mellish mostra a faca a uma coluna de já prisioneiros alemães e atira, satisfeito: ICH BIN JUDEN! JUDEN! Upham é outro soldado, tradutor, trazido à força para o meio da guerra e que a vem ainda encaixando. Upham contribuiu para que Willie fosse solto. Willie e Mellish lutam enquanto Upham espera em baixo, perdido.

Irónico é que tudo tenha convergido para que a lâmina tirada do bolso do casaco do cadáver alemão tenha entrado na luta pela mão de Mellish para depois vir a ser enterrada, lentamente, no coração deste. Willie não fez mais do que se esperava a um soldado, continuou a lutar e a matar, e nem os apelos do americano lhe serviram de travão, Chhh chhh, esvaindo-se e perdendo-se aos poucos.

Este breve momento de morte é dos mais duros e crus que já vi num filme, dos mais puros e insanos que presenciei no cinema! Não esperava que surgisse a morte assim, naquele instante, apesar de a aperceber esperando! 

Agarro-me ao estômago e extraio-me da cena. Nada é mais aterrador e visceral do que a morte lenta e assassina! E, mesmo que encenada, perturba porque evoca!

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Imagem - de Sarilhos Pequenos, Seixal

1 comentário:

  1. Anónimo03:15

    Também achei esse uma das cenas mais impressionantes que eu já vi no cinema. Passei dias mal por causa dela.

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