20050905

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POLEMICUZINHO

1
como te disse, não podia ficar com estas atravessadas.
o que aqui vai foi por ti próprio pedido porque então a querela espoletaste!

a base da sólida contra-argumentação - o princípio da boa discussão é deixar o outro contra-argumentar, só assim se mantém alto o nível da conversação, pois os objectivos finais da construtiva dicussão é o de ensinar mas também aprender. mudar mentalidades é secundário, os oponentes terão certamente bem estabelecidas e enraizadas as bases do seu pensamento.

e se te deixei contra-argumentar, sobretudo não me deixaste argumentar.

e além dessa questiúncula da "burguesia", aponho outras mais antigas que foram ficando por esclarecer.

aí vai, num decrescendo cronológico:.

2
"o poeta é um sofredor?"

se bem que nem todos os poetas possam trazer "numa mão a espada na outra a pena" precisam de alguma experiência de vida para depois a partilhar, abstracta ou concretamente, adocicando-a ou metralhando-a para quem o lê. se nem todos os escribas salvam os seus tesouros-escritos "nu'a mão" e perdem na confusão a sua dinamene, não deixa de ser óbvia a necessidade de passar algum pesar e de consolar alguma agrura para que então assome o criativo, vomitando os seus monstros em palavras, numa catarse sobre o papel!

muitos escritores são aparentemente pessoalmente desinteressantes, mas como saber se a sua vida pessoal não será escabrosa o suficiente para ser esse o seu fado amargo, o seu acre alimento vulcânico, o phatos catalisador da sua escrita?

por detrás do manto de palavras esconder-se-á a amargura.

3
"blood simple - sangue por sangue"

detestei blood simple como etapa no crescimento dos coen. 
não é qualitativamente um "raising arizona", um "brother where r' thou", ou um "fargo" ou ainda um "the man who wasn't there"! arrumo-o na gaveta baixa do ethan e joel e ao lado de "the ladykillers". mas é bom como objecto fílmico dissociado dos coen, mostra a imaturidade de um realizador por vir, uma promessa de qualidade posteriormente demonstrada!

e a obra dos coen não pode ser considerada como atípica, a irregularidade não assim tão evidente e fácil de apontar. existem constantes, uma fórmula repete-se dando origem a uma filmografia "quase" de autor: o argumento sumarento, os diálogos suculentos e as personagens bem vincadas estão sempre ali, tal como a paisagem (dos velts, dos apalaches) e a monotonia rural (como a de hopper) e de estrada americana (como a celebrada route sixty six - por kerouac)

4
"o dinheiro não dá felicidade"

o dinheiro não dá felicidade, mas trá-la.

camões viveu intensamente e feliz mas morreu na penúria. pudesse ter oferecido mais que umas folhas versejadas pelo jantar aos seus amigos e seria ainda mais feliz. cervantes morreu na miséria, miserável, cheio mas faminto.

todos os pintores e escultores vivem para expor e mostrar a sua arte, mas sobrevivem do mecenato e da compra das suas peças e precisam do dinheiro para comprar as tintas e a matéria para as metamorfosear em obras de arte. pigmento em imagem, óleo em luz, pedra em corpo. degas não precisou, felizmente.

a que seria última ceia foi providenciada pelo dinheiro de quem? maomé era rico (a condução de povos pede dinheiro e tempo), aponta-se que buda era príncipe e que os pré-socráticos, socráticos, platónicos, aristotélicos, estóicos e outros, usufruiram de trabalho escravo e eram abastados qb (o conforto do desafogo monetário permitiu-lhes dedicarem-se à meditação e a filosofar).

até o mais puro dos ascetas precisa de um utensílio manufacturado para compor os seus andrajos, uma guloseima ou fruta para a alma e até um capão para festejar uma conquista mística ou o atingir do inalcançável nirvana.

até tu, quando compras um tempero esquisito ou elaboras um demorado jantar para os amigos, compras um livro ou vês um filme que desejavas, compras um jornal com um dvd incluído ou passeias para descomprimir, vejo rasgar-se-te ainda mais o sorriso! tudo isto se fica a dever ao dinheiro dispendido.

directamente ou indirectamente o dinheiro traz felicidade, mas claro que não é tudo, não é o essencial. o principal é a felicidade. mas a infelicidade é aplacada com dinheiro.

mas não vou cair nessa ideia encantadora e simplista de achar que não o é, que posso viver totalmente feliz sem dinheiro.

e detesto a condescendência sobre a idade. não vivi tanto, mas tenho já a minha dose de perdas e ganhos.

5
"ser burguês"

esta é a mais complicada, porque a tens arreigada. mas o que me parece complicado de refutar, torna-se mais simples de abater.

apercebi-me que fortificaste esta opinião para defender a tua própria classificação do ser burguês, dos objectos burgueses, que constantemente colavas aos engenheiros. e o que partiu de uma brincadeira já há um tempo atrás (de atribuir este carro a este e este a outro), jogo que acompanhaste e alimentaste, até contribuindo, agora o tornaste numa batalha pela tua própria ambição de ter um jeep e não quer ser engavetado-classificado como rico.

por isso eu brinquei e assanhaste-te e assim tenho que defender o meu argumento perante o teu socrático e violento questionar.

tudo na vida é espartilhado e catalogado. eu sou um consumidor nato e tu também o és, fomos já amiúde ao dc, mas a este ou aquele centro comercial eu não me faço nem te faço a estatística das visitas! seremos burgueses por isso? não, talvez pequeno-burgueses. mas o que somos certamente é consumidores, ávidos consumistas. temos luxos, todos os desejam, sempre o ser humano deles necessitou e a eles aspirou. nas trocas directas, nas feiras francas, nos bazares, sempre se buscou e comerciou tudo.

a nobreza-burguesia (que se confunde e funde no virar do século - por decadência da primeira e riqueza da segunda), era e é a classe rica que tudo tem e mais ainda quer, nós somos os que contamos os tostões para ter algo do que queremos.

somos parte da magnífica classe média que suporta este país (ou plebe, ou arraia miúda, ou homens-bons, ou povo)!

eu por comprar coisas - gadgets - poderei ser encaixotado como burguês? achas que por seres comunista te podem confundir por estalinista, leninista ou trotskista? eu sou marxista e tenho-te também como tal. não te vejo a defender cegamente cuba e a coreia do norte, a lamentar a primavera de praga, e a condenar a queda do muro de berlim! defendes obstidamente cunhal? ou separas o homem do político e vê-lo como necessário para o país naquele momento mas indesejável como governante (pela obstinada ortodoxia), como eu o vejo?

por te afirmares comunista aceitas que te inscrevam nesse livro negro vermelho ou na bela utopia de marx e engels?

as palavras valem o que valem: um significado e um significante, moldamo-las a nosso bel-prazer.

6
chamem-me ressentido (e huxley batia nisso violentamente), chamem-me teimoso e casmurro (blogue casmurro) e ainda insistente, mas gostaria de tomar agora a discussão não como encerrada mas para já empatada em todos os seus tópicos!

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Segunda extracção do Arquitectices

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