20051226

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MULTIPLEXES KILLED THE CINEMA 

A população de Coimbra sempre esteve mal servida no que a questões cinéfilas concerne. Eu cresci com o Tivoli e o São Teotónio ainda a funcionar e vi-os cair. Vi o Giras Solum metamorfosear-se de uma boa sala de cinema para dois cubículos de junk cinema. Não conheci o Sousa Bastos nem o antigo Teatro Avenida. Identifiquei-me sobretudo com o novo Avenida e as suas salas, caricatamente afastadas umas das outras, com a sua labiríntica rede de lojas, mas sobretudo com o atendimento personalizado e afectuoso, o ambiente familiar e as sessões de cinema sem pipocas e sem intervalo, à cinéfilo comme il faux, puro e duro. Durante anos o Avenida foi o meu cinema, com as suas sessões especiais e em conjunto com o TAGV, com os seus ciclos de cinema de autor, organizados pelo fila K. Não suportava o Gira como o deixaram.

Depois da enxurrada de multiplexes em portugal na década de 90, Coimbra permanecia imaculada, intocada. Até que abriram as primeiras salas de fast food cinema e, então, foi a hecatombe! O Gira fechou e o Avenida reduziu-se a duas salas, com menos sessões, não tão tardias e sempre às moscas. Perspectiva-se difícil a manutenção.

Agora sabe-se que abrirão dois novos complexos cinematográficos, com mais 6 e 10 salas, o que se constituirá no toque de finados definitivo para o Avenida.

Coimbra viverá de multiplexes, de cinema aos rodos e gente aos magotes, com intervalos a truncarem estupidamente os filmes e com companheiros do lado a sorverem refrigerantes e a mascarem pipocas, enquanto esperam pelo intervalo, para se alambazarem com o seu hamburguer, a sua sandes, o seu cigarro.

Outras cidades souberam manter as pequenas salas de cinema, intimistas, precárias, mas que relembram a verdadeira génese do cinematógrafo, meia dúzia de aficcionados a consumirem cinema de verdade, filmes bem feitos e não o Harry Potter 3000 ou a quinquagésima sequela do The Ring! Leiria, Aveiro, Lisboa e Porto mantêm pequenas salas, que resistem à voragem e infinita e sedutora atractibilidade consumista dos cinemas gaveta. Permanecem com ciclos de cinema paquistanês ou indiano, como sala de mostra de indy cinema, de Sundance, de Cannes, de San Sebastian, de Berlin. Ou teimam em mostrar o mainstream concorrendo com os monstros de cinema farta-brutos.

Eu vou ao cinema para ver um filme. Sem mais nada, sem outro objectivo que tal, sem sobressaltos de bilheteira e lugar marcado, sem salas carregadas que nos empurram para as odiosas primeiras filas, sem o chocalhar das pipocas, o rumor das gomas e chupas e sem a sofreguidão oral dos refrigerantes aspirados.

Sugiro que recuperem o Sousa Bastos, o Avenida e o Gira como salas contra a corrente, que expulsem a Zara do Tivoli e o restituam como era e que ressuscitem o São Teotónio. Que devolvam a Coimbra as pequenas salas de cinema, únicas, autênticas, urbanas, íntimas e cinéfilas. Obrigado.

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