20060518

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CAPÍTULO 1, ONDE ESTOU, ONDE ESTÁS?

D’aprés henry miller

estou entre ímpios!

Um proclama bem alto o gosto pelas armas, pelo tiro aos pratos e pelas artes marciais. E defende ainda obstinadamente o recurso às armas como último e mais eficaz meio de defesa pessoal, seja em casa ou na rua, como reduto e baluarte únicos dos oprimidos contra os ruins!

Outros dois defendem abertamente o anterior. Outro ainda suporta o primeiro, mas mantém-se comedido.

Tenho escondido que sou do BE, mas as qualidades que penso possuir, de civismo e humanidade, saltam por palavras cá para fora e tentam alterar algumas complicadas mentalidades... Infrutífero - nunca se conseguem modelar atitudes extremistas, corrigir pensamentos ínvios e reeducar mentes obstinadas, quando os indivíduos acreditam realmente nisso tudo e têm nutrido ódios e incompreensões! É o falhanço total!

Um admite consumir drogas amiúde, de todos os tipos, regular e prontamente, pelo simples gozo pessoal ou para inclusão no grupo. Outro sei-o que faz o mesmo há já três dezenas de anos, disse-o o anterior e eu confio. O declarado consumidor de estupefacientes diz-me que é o mais habitual por estas zonas e que todos o fazem e o continuam a fazer e ainda me convida para participar no repasto, estranhando a minha recusa. Já fumei, já enrolei e já travei, o resto não o quero porque sou fraco de espírito – por mais que tente e queira não deixo de fumar – e segui em frente.

Existe ainda este que destila prepotência por todos os poros, mas canalizado apenas só sobre os que não têm formação superior! Eu e outros dois, por sermos licenciados, fugimos à deflagração, mas eu, em especial, sinto-me enojado e nada confortável por tal tratamento especial e diferenciado e por ver rebaixadas pessoas pela única razão de não possuírem habilitações!

Esta é a mentira e a antipatia tornada gente. O outro que se lhe junta é outro que tal e copia-lhe inteiramente o modo de lidar com os demais.

E falam e falam e apregoam e pregam e doutrinam sobre os bairros povoados com negros e brasileiros e ucras e sei lá mais quem que seja estrangeiro e estranho e mais escuro ou mais claro – em suma, diferente – e que não encaixe no WLPC (white luso-portuguese catholic), anagrama copiando o famosamente triste WASP. Pintam subúrbios de criminosos e obstinados e esfaimados meliantes que ocupam e destroem tudo e que se pudessem destruíam ainda mais, no seu simples entendimento de preto-no-branco, numa simplista divisão maniqueísta das coisas – não é dos nossos porque não encaixa no nosso perfil, logo não é bom nem bem vindo, ponto!

E justificam o defender-se pela força das armas, inclusivamente admitindo o matar, não compreendendo o princípio das coisas ou não o querendo de todo sequer perceber. Queria que fossem todos pretos mansos para sofrerem na pele o desgaste da incompreensão e da intolerância; da falta de recursos e da constante exclusão; dos caminhos a que se é obrigado a trilhar e que não têm alternativas, nem bifurcações, nem tão pouco interfaces.

Este é asquerosamente tímido e não expõe publicamente as suas convicções, pelo que não admito conhecer a sua forma de pensamento. O que se lhe avizinha no cubículo é todo sorrisos e simpatias mas palpito que é por pressentir o seu posto a perigar.

O último é brasuca e foi aceite.

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