20080126

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PROMISSÃO

Diz pessoa para escritor que se desloca para o estrangeiro: "Vê se escreves".E mais lhe diz (completando as recomendações, as loas e as aspirações e, assim também mais fala e aqui o transcrevo para nos ajudar a triangular este pequeno enredo ainda enredado):

"Vê se escreves, caro amigo escritor, não te quero perder, não te quero estranhar, não te quero tomar como estranho! Escreve-me como amigo e não como escriba profissional, raspa um pouco ao de leve essa formatação do ofício, deixa de lado esses esperados formalismos e barroquismos de escrita e linguagem, que não são para nós, nem entre nós. Escreve-me sem modéstias, nem falsas nem imensas e sem profícua abusiva adjectivação, toma-me como leitor, não de circunstância, mas um que te chama de amigo chegado. Serei um ledor amigo”

Diz-lhe o amigo escritor e amigo:

“Tá bem, gatafunhar-te-ei uns tipos, umas lérias, arengarei até a caneta calejar o papel, serão umas épicas cartas, uns portentos de missivas, um não mais acabar de tretas, num prosaico chorrilho de verdade, numa cantilena de amores perfeitos, imperfeitos e mais que perfeitos e balelas e balelas a gosto ditadas, inté!”

Retorque o primeiro dialogante, o amigo do escritor amigo:

“Não espero nada de epopeico nessa letritas que o vento não levará, quero simplicidade do momento, irreflectidas palavras e frases por burilar, quero textos por facetar e, a haver tema, que o seja a quente, imediato e ainda por moldar.”
Remata o escritor amigo para o seu amigo não escritor:

“Algaraviada terás, postas de pescada postada e verborreias tardias. Dar-te-ei dialéctica e retórica simultânea e alternadamente, em abundante tempestade mental e ainda desinteressantes peças do quotidiano!”

Responde o leitor por vir:

“Quentes e boas palavras aqui as espero a dar novas do meu amigo!”Despedem-se num caloroso amplexo e num segundo abraço (precedido de um leve afastar para um último reconhecimento ocular), viram costas como se num duelo aprazado estivessem, caminham costas batendo com costas, abrindo passos infinitos em sentidos opostos, traçando uma recta (onde num dos seus pontos até há poucos segundos atrás ainda conversavam), cavando a distância que se espera vir a ser aligeirada. *1

Chamar-me-ei de escritor e envio esta primeira carta ao meu amigo.

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*1
Para ser correcto e baseado na geometria euclidiana que acima serviu de suporte, dir-se-ia que a conversa entre os amigos se deu no ponto médio do segmento de recta formado pelos dois personagens – considerando que a abertura de pernas será idêntica, logo a distância percorrida aproximada e a velocidade constante e igual - sendo estes a cabeça de seta de cada um de dois vectores simétricos em constante progressão e dilatação.Tretas... Bah! Gaita de nota...

Foto - MAL street sessions, 2008

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