20070108

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MANIFESTO LIGAR OS PONTOS 

Ideias há que soam tão belas da primeira vez que são imaginadas, e enquanto quentes na mente onde foram concebidas continuam a parecer belos ideais. Com o tempo algumas esmorecem ou quando materializadas perdem a sua força, empalidece o seu anterior estado místico e idealista. Ao passar a uma folha de papel, e deve-se fazê-lo imediatamente, separa-se o trigo do joio, ou seja, as ideias belas e esplêndidas das idiotas e simplórias, ou ainda, os pensamentos arrebatadores e praticáveis dos acometimentos imaterializáveis.

Esta pareceu-me uma boa ideia. Todos nós ligamos os pontos quando pequenos, é um exercício de destreza necessário. Agora ligamos os pontos entre locais e obras em adultos como forma de nos cultivarmos e crescermos um pouco mais. No entretanto aprendemos. Na tarefa básica de ligar os pontos A e B e outros por linhas desenhadas com hesitação, agora ligam-se A e B e outros C e D por carro e com o objectivo mais sólido de ver, ouvir, tocar, cheirar e saborear - usar os sentidos para percepcionar completamente a arquitectura.

Sou de matéria orgânica, aquela última é realizada por nós, arquitectos e é inorgânica, inerte, mas nem sempre estática e está continuamente em mutação. É importante percepcionar todas essas mudanças impressas sobre a paisagem urbana, acompanhar a gestação dos projectos e o resultado final e contactar sempre com mais obras, cidades e projectistas.

Daí que ‘Ligar os Pontos’ seja uma ideia que vai de encontro à necessidade básica de viajar de um arquitecto em formação permanente. Ligando os pontos de um tema, de uma obra, de um percurso e de um arquitecto, e compilando-os em livro de texto ou de imagens ou de ambos, aprendem-se e traçam-se novos caminhos para a evolução enquanto projectista.

Esta publicação de autor pretende ser mais uma experiência visual do que uma presunção crítica, até porque não me valorizo tanto.

Esta ideia surgiu primeiro em PT, e foi uma das poucas entre muitas que não perdeu nada na materialização. De pensada em PT, a ideia foi dada à luz em BCN e foi finalmente formatado o texto em CBR. Os primeiros nomes perfilados como material para ligar os pontos foram, por esta ordem: Távora, Siza, Souto e Mendes Ribeiro em PT e, numa natural passagem entre qualidade de trabalho e relevância contemporânea: Badia, Coderch e Ferrater, de BCN e Baeza, de MAD.

As restantes figuras portuguesas ficam de molho e serão retratadas e vistas oportunamente. As espanholas perfilam-se desde já e começam após os quatro arquitectos portugueses seleccionados.

Gostaria sobretudo de partilhar múltiplas experiências como a de Távora perante Taliesin, porque aspiro sobretudo a ser arquitecto-artista e a arte é emoção. Aqui quero passar essa emotividade sentida perante a obra visitada e partilhar viagens e pontos de vista pretendidos.

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Escrito em Barcelona, Janeiro de 2004

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